"Aquele que quer aprender a voar um dia precisa primeiro aprender a ficar de pé, caminhar, correr, escalar e dançar; ninguém consegue voar só aprendendo vôo." Nietzsche
Professor Iasson, O SOBERANO
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011
3ª. Série do EM - Aula 07/11/2011- Terrorismo
Os ataques que ocorreram no dia 11 de setembro nos EUA, estão sendo considerados como os atos terroristas mais importantes da história recente mundial, por que atingiram a maior potência mundial e principalmente por que contam com a cobertura de todos os meios de comunicação de massa.
As cenas que chocaram o mundo foram repudiadas pelos principais governantes, de diversas nações do mundo. A morte de milhares de civis, em um ataque terrorista como esse, reforça o sentimento humanista e a posição contrária aos grupos ou pessoas que se utilizam deste método de ação.
O TerrorismoSem entrar em uma discussão acadêmica, podemos dizer que o terrorismo é a utilização sistemática da violência imprevisível, contra regimes políticos, povos ou pessoas.
No século XX, o terrorismo foi visto e aprendido por nós como a atitude violenta de grupos com ideologia definida, com um objetivo político traçado, que muitas vezes envolveram questões religiosas ou étnicas.
Do ponto de vista político, organizações de "direita" ou de "esquerda" se utilizaram do terror como prática, no intuito de derrubar governos e chegarem ao poder, e de uma forma geral, assumiram seus atentados como forma de propagar seus ideais. Do ponto de vista religioso, nas últimas décadas se avolumaram atentados de grupos políticos muçulmanos, mas também de grupos políticos cristãos, como o IRA, na Irlanda. No caso da luta étnica destacou-se principalmente o ETA, na Espanha, ou a Ku Klux Klan nos EUA (desde o final do século XIX)
No entanto, apesar de todos terem se utilizado da violência, as motivações são diferentes e devem ser analisadas historicamente de forma individual, a partir de suas características, para podermos compreender os elementos que as engendraram.
A partir de uma visão massificada, considera-se que os árabes estão sempre propensos ao terrorismo. De fato, nas últimas décadas proliferaram os grupos político-religiosos que, no Oriente Médio, adotaram a pratica terrorista como meio de luta. A região é vista como um barril de pólvora, mas qual a razão? É o fato de ser muçulmano ou árabe que determina essa situação?
Na verdade a idéia do "barril de pólvora" aparece após a 1° Guerra Mundial, quando os territórios do Oriente Médio, até então parte do Império Turco, foram colocados sob a "proteção" da Liga das Nações, representando na prática, a dominação inglesa e francesa. A Mesopotâmia, a Palestina e a Jordânia ficaram submetidas à jurisdição inglesa enquanto Síria e Líbano, à jurisdição francesa. Dando continuidade às práticas anteriores a guerra, grandes empresas estrangeiras se instalaram nesses países, interessadas principalmente no petróleo, exerceram forte dominação econômica e política na região, muitas vezes com a colaboração das elites locais, beneficiadas com o ingresso de novos capitais.
Nesse período a Inglaterra já apoiava oficialmente o movimento sionista de colonização de terras na Palestina, sustentado por vários fundos internacionais, destacando-se o Barão de Rottschild, grande banqueiro inglês, de origem judaica.
Após a 2° Guerra Mundial, a situação tendeu a se agravar, principalmente com a criação do Estado de Israel e o desenvolvimento de uma política agressiva por parte de sionistas, amparados pelos EUA.
As pressões imperialistas e sionista deixaram poucas opçoes aos povos dominados, levando uma parcela da sociedade a organizar grupos guerrilheiros e a promover o terrorismo.
Por suas conseqüências trágicas e seu grande apelo publicitário, o terrorismo é um dos temas favoritos da mídia. Por esse mesmo motivo a sua abordagem tem sido superficial, reforçando estereótipos e evitando a discussão sobre suas origens ou razões
O terrorismo de EstadoAo longo da história percebemos que os Estados ou instituições com poder de Estado, se utilizaram do terrorismo. Mais interessante, é perceber como essas instituições de dominação, conseguiram contar com o apoio da maioria da sociedade nesses momentos.
Um dos grandes exemplos da história foi a Inquisição, praticada pela Igreja Católica na Idade Média e início da Idade Moderna. A maioria da população cristã da Europa sempre considerou justa e necessária a perseguição "às bruxas".
O terror foi utilizado entre 1793 e 94 por Robespierre, líder da Revolução Francesa, como forma de preservar o poder e as conquistas populares e foi defendido por grande parcela da sociedade; foi praticado por Hitler e pelos nazistas contra os judeus, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, com o extermínio em massa de prisioneiros em campos de concentração. O terrorismo de Estado apareceu também com a idéia de limpeza étnica, posta em prática pelo ditador sérvio Milosevic, contra os habitantes da região do Kosovo.
O terror foi (e ainda é) utilizado pelos EUA, destacando-se principalmente o bombardeio de Hiroxima e Nagasaki no Japão, quando de uma Segunda Guerra Mundial praticamente já acabada, para mostrar ao mundo e a URSS, o poderio do "império americano", não hesitaram em matar milhares de civis; ou ainda quando armam grupos guerrilheiros, como aconteceu no Irã, na Nicarágua ou mesmo no Paquistão e Afeganistão.
A partir de dezembro de 1979, o Paquistão tornou-se um aliado privilegiado dos EUA, pois o ditador Zia Ul Haq acolheu entre 3 e 5 milhões de refugiados afeganes depois da invasão soviética ao Afeganistão. Foi através do ditador paquistanês que os EUA passaram a dar ajuda financeira e militar à resistência no Afeganistão -- a guerrilha mudjahidin -- contra a ocupação soviética. É interessante lembrar que Zia Ul Haq tomou o poder em 1978 após um golpe militar, eliminou a frágil democracia no país e instaurou a Sharia -- código islâmico que prevê o açoitamento, a amputação e o apedrejamento até a morte para os criminosos. Uma de suas primeiras vitimas foi o presidente "democrata" que ele havia deposto, enforcado em 1979.
O imperialismoEnquanto a Igreja católica foi a "dona" do mundo (ocidental), durante o feudalismo, poucos ousaram questionar o seu poder e suas decisões. Aqueles que o fizessem, seriam também considerados hereges e teriam o um único destino, a fogueira.
Do mesmo modo, hoje poucos ousam dizer que os EUA "colhem os frutos da política que implantaram" ao longo do século. Os "senhores do mundo", que se auto intitulam os "grandes defensores da liberdade" aparecem como vítimas de uma grande conspiração de forças malignas...afinal de contas, quem entre nós vai defender os atos praticados neste dia 11.
Muitos meios de comunicação reproduziram no dia seguinte (12 de setembro) uma frase proferida pelo presidente George W. Bush: "Hoje nossa nação viu o mal".
Se o atentado terrorista é o mal, quais são as forças malignas?
O poder da mídia fala mais alto. Os EUA aparecem como vítimas.
Notem, falamos dos EUA, não das pessoas que morreram nos atentados; essas, não há dúvidas, são vítimas, assim como foram os japoneses de Hiroxima, os judeus de Treblinka, os palestinos da Cisjordânia, os negros do Mississipi e muitos outros grupos ou mesmo povos.
Os EUA não, mas o povo norte-americano, de fato, nunca tinha visto o mal tão perto, pelo menos nessas proporções, neste último século. As grandes tragédias ocorreram fora do território norte-americano. Os EUA participaram das duas grandes guerras mundiais, porém em nenhuma delas houve bombardeio no país. A população dos EUA viu as grandes guerras pela imprensa, ao contrário dos diversos povos europeus e asiáticos. Quando participou efetivamente de uma outra guerra, no Vietnã, parte da população foi ganhando consciência do que ocorria e passou a se manifestar, contribuindo para a retirada dos exércitos norte-americanos da região
É interessante percebermos, como praticamente todos os professores de história, em vários momentos, se referem aos EUA como um país imperialista, e consequentemente, a maioria de nós, quando fomos alunos, ouvimos essas exposições e continuamos a ouvir em outros momentos de nossas vidas, mas mesmo assim, em momentos entendidos como "de comoção", a grande maioria não consegue estabelecer uma relação entre as
diversas situações.
O PreconceitoPreconceito é o conceito formado antecipadamente sem o conhecimento dos fatos. O preconceito é uma herança cultural por isso é impossível não ter preconceito algum. O etnocentrismo, é o pensamento que leva as sociedades a acharem que sua cultura é a única válida e por conseguinte desprezar e, de forma mais radical, eliminar outras culturas.
Costumamos dizer aos nossos alunos: "o preconceito é fruto da ignorância".
O preconceito é algo que esta enraizado em todas as sociedades, e que se apresenta das formas mais variadas. Cada um de nós esta sujeito a manifestar-se de forma preconceituosa devido a formação social que tivemos; mas é dever de cada um e do ensino, procurar entender suas origens e contribuir de forma decisiva para sua diminuição e eliminação.
Se devemos condenar o terrorismo praticado pelo ETA, devemos nos lembrar, que ninguém diz "terrorismo basco", pois a maioria dos bascos não defende nem possuiu esta prática, sendo assim não devemos falar em "terrorismo árabe ou palestino", como tornou-se comum na mídia e no cinema, principalmente depois que a "Guerra Fria" terminou.
Em 17 de julho de 1996, quando um avião da TWA caiu na costa de Nova York provocando a morte das 230 pessoas, as primeiras suspeitas recaíram sobre "algum árabe radical". A idéia de atentado permeou o imaginário de milhões de norte-americanos, até ser comprovada a falha elétrica que causou a explosão do tanque de combustível.
O pior ataque terrorista sofrido pelos EUA em seu país até então havia sido a bomba colocada em frente a um prédio público em Oklahoma, em 1995, que provocou a morte de 168 pessoas. Novamente a idéia de terrorismo "árabe" foi propagada e, é interessante como a própria imprensa dos EUA apresentou a frustração do povo, quando foi preso o autor, um cidadão norte-americano, Timothy McVeigh, que foi condenado à pena de morte pelo crime e executado.
O atentado terrorista praticado no dia 11, nos EUA é repudiado por todos nós, que procuraremos utiliza-lo como exemplo para estimular a discussão sobre o significado do terrorismo e do preconceito.
O terrorismo e suas manifestações contemporâneasEspecialistas analisam a questão
No início do ano, logo após a libertação de duas reféns pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o presidente venezuelano Hugo Chávez, que intermediou as negociações, sugeriu que a guerrilha colombiana deixasse de ser internacionalmente classificada como um grupo terrorista e passasse a ser considerada um movimento de emancipação. Se, por um lado, o pedido provocou contundentes e imediatas reações contrárias da maior parte da comunidade internacional, que rechaçou a idéia, trouxe também novamente à tona o debate a respeito de uma questão crucial para os tempos modernos e sobre a qual ainda não há consenso: afinal, o que é o terrorismo e quais suas manifestações e características contemporâneas?
Professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e estudioso do tema há quase vinte anos, Héctor Luis Saint-Pierre afirma que se trata de um ato de violência que atua fundamentalmente sobre o universo psicológico, pois tem como principal objetivo disseminar a destruição e, mais do que isso, a sensação de medo e de pânico. Mas o especialista adverte: não é nada fácil trabalhar com esses conceitos. As águas são muito mais tormentosas do que se imagina. Não raro, grupos que são agredidos e agem em legítima defesa são criminalizados e genericamente chamados de ‘terroristas’, e a expressão acaba sendo banalizada e distorcida. “As definições em geral são cunhadas por aqueles que têm o poder e que, portanto, estabelecem essas construções em função de seus próprios interesses. Na década de 1960, os movimentos revolucionários que se levantaram contra as ditaduras militares latino-americanas eram chamados de terroristas. Foi uma forma inclusive de tentar justificar práticas inaceitáveis como a tortura”, explica.
Ato terrorista x grupo terrorista
Preocupado com o rigor conceitual e caminhando nesse terreno pantanoso, Saint-Pierre tem o cuidado de diferenciar ato terrorista de grupo terrorista – mesmo sabendo das polêmicas que essa distinção pode suscitar. “Ato terrorista é aquele cometido por qualquer grupo armado e que na essência pretende espalhar o medo entre o inimigo e diminuir sua capacidade de reação”, reforça. No entanto, ele avalia que há situações em que tais atos representam a defesa possível e são patrocinados por organizações que lutam por causas legítimas e que encontram na resistência a única forma de reagir contra arbitrariedades e imposições autoritárias. “São grupos combatentes que empregam o terror”, diz. Segundo o professor, esse é o caso do Iraque, invadido pelos Estados Unidos sem a autorização do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e onde proliferam as manifestações armadas que rejeitam essa ocupação. “São grupos guerrilheiros chamados de terroristas, mas que na verdade procuram resistir e fazer oposição à invasão. Considero essa uma guerra insurrecional, de libertação e de dissuasão pela resistência, patrocinada por um povo que não aceita aquela situação”, completa o pesquisador, que também é coordenador da área de Paz, Defesa e Segurança Internacional do curso de pós-graduação em Relações Internacionais mantido pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), além da UNESP. É amparado por essas reflexões que ele não aceita a inclusão das Farc no rol dos grupos terroristas. “Vale lembrar que o próprio governo brasileiro, mesmo antes do presidente Lula, também se nega a assumir essa classificação. Essa atitude já gerou inclusive atritos com os Estados Unidos”, diz.
Um dos coordenadores do Grupo de Acompanhamento e Análise do Terrorismo Internacional (GAATI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexander Zhebit recorre ao termo neoterrorismo para referir-se às manifestações contemporâneas do fenômeno. “Não deixou de ser terrorismo, mas ganhou características novas. Ultrapassou as fronteiras nacionais e passou a ser global. Seu alvo não é mais um governo ou uma estrutura de poder estatal, mas a própria ordem mundial. É mais destrutivo, desumano e perigoso”, avalia o pesquisador. As diferenças não terminam por aí: enquanto o chamado terrorismo clássico, patrocinado por organizações como o Exército Republicano Irlandês (IRA) ou pelo grupo Pátria Basca e Liberdade (ETA, da Espanha), tinha militares e funcionários de governo como alvos metódicos e sistemáticos, já que estes eram vistos como representantes do Estado e entendidos como inimigos definidos, o neoterrorismo é indiscriminado e aleatório – e não poupa os civis. “O propósito é atingir o maior número de pessoas para mostrar que ninguém está livre do terror. Não existe mais a idéia do grupo de risco. Todos somos alvos potenciais”, explica Saint-Pierre. “É um cenário apavorante, pois gera uma sensação de desamparo, de não proteção e de vulnerabilidade absoluta”, completa. Além disso, lembra o especialista, como faltam uma lógica e um projeto políticos mais claros, estratégias que defendam ideais como autodeterminação ou independência, perde-se também a possibilidade de interlocução e de negociação. “O que grupos como a Al-Qaeda querem negociar? Qual a proposta política deles? Um mundo islâmico? É impossível”, define o professor da Unesp. Para Zhebit, embora diluída, a lógica de disputa política se mantém – e tem como inimigo a ordem mundial de hegemonia ocidental. “O neoterrorismo declarou guerra contra as organizações internacionais, matando inclusive representantes da ONU, como o brasileiro Sergio Vieira de Melo”, diz.
Outra faceta imprescindível para a compreensão do neoterrorismo diz respeito à sua relação com a mídia e à compreensão que os novos agentes do terror têm acerca dos significados e dos impactos de um espetáculo. O efeito midiático, principalmente televisivo, não apenas amplifica planetária e instantaneamente a sensação de terror, mas anestesia e entorpece comportamentos, em função da repetição exaustiva das imagens. Financiado por fontes diversas (organizações extremistas, contribuições pessoais, dinheiro do narcotráfico e do crime organizado e verbas desviadas de Estados falidos), o neoterrorismo caracteriza-se ainda por sua atuação descentralizada, baseada em células que operam em diferentes territórios, simultaneamente. “Foi assim com o 11 de setembro de 2001. Os militantes da Al-Qaeda passaram anos escondidos na Europa e nos Estados Unidos, treinando para os atentados. Quando vem a ordem, eles operam”, lembra Saint-Pierre. E, apesar de o neoterrorismo ter conquistado avanços expressivos a partir de suas conexões explícitas com grupos fundamentalistas islâmicos e de ter se tornado mais conhecido a partir dos ataques patrocinados pela organização liderada por Osama Bin Laden, os dois pesquisadores chamam a atenção para o perigo de estabelecer uma associação direta e imediata entre o Islã e atos de destruição em massa, como se muçulmano fosse sinônimo de terrorista. “Não é verdade. Não podemos condenar o islamismo como uma religião terrorista”, destaca Saint-Pierre. “Há grupos terroristas em países não muçulmanos, como o Aum Shinrikyo, no Japão (também conhecida como Verdade Suprema, usou gás sarin para matar doze pessoas no metrô de Tóquio, em atentado cometido em 1995), e os Tigres Tâmiles, no Sri Lanka”, completa Zhebit.
Cenário nacional
Ao trazer esse debate para o cenário nacional, os dois especialistas refletem sobre a atuação de organizações como o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo e preocupam-se em identificar pontos de encontro e de afastamento entre práticas terroristas e crime organizado. “Qualquer grupo criminoso ou de narcotráfico pode ser chamado de terrorista, se recorrer à violência indiscriminada contra civis, com a diferença que o crime não é movido por objetivos políticos, mas pela ganância”, define Zhebit. Os argumentos apresentados por Saint-Pierre caminham na mesma direção. Para ele, o PCC e o CV são agentes do que chama de terrorismo criminal. Trata-se de um movimento que pretende acuar o poder legal para garantir o lucro fácil e imediato. O professor da Unesp lembra os acontecimentos de maio de 2006, quando o PCC conseguiu, a partir de explosões em bancos e postos de gasolina e dos ataques a ônibus, disseminar o pânico e literalmente parar a cidade de São Paulo. “Foi uma ação planificada e organizada, com intuito de pressionar o Estado e facilitar a lógica do crime. A mensagem que estavam mandando era: ‘não atrapalhem nosso negócio’”.
Para o professor da Unesp, o combate a inimigos tão poderosos deve contemplar essencialmente estratégias de inteligência. Isso significa, no plano internacional, controlar movimentações financeiras e fiscalizar severamente mecanismos como a lavagem de dinheiro, para secar as fontes de financiamento dos grupos terroristas. Internamente, o enfrentamento às ações de grupos como o CV e o PCC deve combinar uma forte atuação social, o combate à corrupção e a melhoria nas condições de atuação da polícia. “É preciso aumentar a presença do Estado para diminuir o espaço das estruturas corruptas e criminosas”, sugere Saint-Pierre, ciente de que as soluções mágicas não são possíveis – nem desejáveis. “É um trabalho que inclui vontade política, persistência e paciência. Leva tempo”.
Texto do boletim eletrônico do SINPRO
Edição nº 189 - 8/2/2008
domingo, 30 de outubro de 2011
3ª. Série do EM - Trabalho 4º. Bimestre: Racismo - documentário BBC
Racismo: Uma História (Racism: A history) é um documentário produzido pela BBC Four no ano de 2007 em comemoração do bicentenário da Lei de Abolição ao Tráfico de Escravos de 1807, inserido na chamada "Abolition Season" promovida pelo canal inglês. O documentário foi narrado por Sophie Okonedo e dividido em três episódios independentes entre si, cada um contando com cerca de 60 minutos de duração:
1."O Poder do Dinheiro"
Parte 01;
Parte 02;
Parte 03;
Parte 04.
2."Impactos Fatais"
Parte 01
PArte 02Parte 03
Parte 04
PArte 05
PArte 06
3."Um Legado Selvagem"
PArte 02
Parte 03
Parte 04
Parte 05
Parte 06
1."O Poder do Dinheiro"
Parte 01;
Parte 02;
Parte 03;
Parte 04.
2."Impactos Fatais"
Parte 01
PArte 02Parte 03
Parte 04
PArte 05
PArte 06
3."Um Legado Selvagem"
PArte 02
Parte 03
Parte 04
Parte 05
Parte 06
3ª. Série do EM - Aula 31/10/2011 - África do Sul - Apartheid
O que foi o Apartheid na África do Sul?
Entrada do Apartheid Museum, em Joanesburgo,
África do Sul: "brancos" e "não brancos".
Foto: The Africa Fellowship/Creative Commons
Nelson Mandela deixou a prisão há 20 anos, no dia 11 de fevereiro de 1990. A liberdade do líder foi o mais forte sinal do fim do regime de segregação racial na África do Sul, o apartheid.
Colonizada a partir de 1652 por holandeses e tendo recebido imigrantes de outras partes da Europa e da Ásia, a África do Sul tornou-se, em 1910, uma possessão britânica. Desde a chegada dos primeiros europeus, há mais de três séculos, a história do país africano, que será a sede da Copa do Mundo em 2010, foi marcada pela discriminação racial, imposta pela minoria branca.
Como protesto a essa situação, representantes da maioria negra fundaram, em 1912, a organização Congresso Nacional Africano (CNA) à qual Nelson Mandela, nascido em 1918, se uniu décadas depois. No CNA, Mandela se destacou como líder da luta de resistência ao apartheid.
O pai de Mandela era um dos chefes da tribo Thembu, da etnia Xhosa e, por isso, desde cedo, o garoto foi educado e preparado para assumir a liderança de seu povo. "Ele recebeu o melhor da Educação de sua tribo e foi iniciado em todos os rituais. Mas também teve o melhor da Educação europeia, estudando em bons colégios", explica Carlos Evangelista Veriano, professor de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
O apartheid oficializou-se em 1948 com a posse do primeiro-ministro Daniel François Malan, descendente dos colonizadores europeus - também chamados de africâners. "Embora a história oficial omita, sabemos que os ingleses foram os financiadores do apartheid, já que o Banco da Inglaterra custeava todos os atos do governo sul-africano", afirma Veriano.
Com o novo governo, o apartheid foi colocado em prática, instituindo uma série de políticas de segregação. Os negros eram impedidos de participar da vida política do país, não tinham acesso à propriedade da terra, eram obrigados a viver em zonas residenciais determinadas. O casamento inter-racial era proibido e uma espécie de passaporte controlava a circulação dos negros pelo país. "É importante lembrar que essa política teve clara inspiração nazista", diz o professor.
Embora tenha sido preso diversas vezes antes, Mandela já cumpria pena desde 1963 quando recebeu a sentença de prisão perpétua. Porém, com o passar dos anos, o mundo passou a se importar mais com a inadmissível situação da África do Sul, que começou a receber sanções econômicas como forma de pressão para acabar com o apartheid. Em 1990, com o regime já enfraquecido, Mandela foi solto, depois de 27 anos no cárcere. O governo, liderado por Frederik De Klerk, revogou as leis do apartheid. Três anos depois, Mandela e Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz.
Em 1994, nas primeiras eleições em que os negros puderam votar, Mandela foi eleito presidente do país. O filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, em cartaz atualmente nos cinemas, tem como foco a história de Mandela (interpretado por Morgan Freeman) logo que ele assume a presidência. A obra mostra como o líder governou não com a intenção de se vingar dos brancos, mas sim de realmente transformar o país em uma democracia para todos.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/foi-apartheid-africa-sul-533369.shtml
Entrada do Apartheid Museum, em Joanesburgo,
África do Sul: "brancos" e "não brancos".
Foto: The Africa Fellowship/Creative Commons
Nelson Mandela deixou a prisão há 20 anos, no dia 11 de fevereiro de 1990. A liberdade do líder foi o mais forte sinal do fim do regime de segregação racial na África do Sul, o apartheid.
Colonizada a partir de 1652 por holandeses e tendo recebido imigrantes de outras partes da Europa e da Ásia, a África do Sul tornou-se, em 1910, uma possessão britânica. Desde a chegada dos primeiros europeus, há mais de três séculos, a história do país africano, que será a sede da Copa do Mundo em 2010, foi marcada pela discriminação racial, imposta pela minoria branca.
Como protesto a essa situação, representantes da maioria negra fundaram, em 1912, a organização Congresso Nacional Africano (CNA) à qual Nelson Mandela, nascido em 1918, se uniu décadas depois. No CNA, Mandela se destacou como líder da luta de resistência ao apartheid.
O pai de Mandela era um dos chefes da tribo Thembu, da etnia Xhosa e, por isso, desde cedo, o garoto foi educado e preparado para assumir a liderança de seu povo. "Ele recebeu o melhor da Educação de sua tribo e foi iniciado em todos os rituais. Mas também teve o melhor da Educação europeia, estudando em bons colégios", explica Carlos Evangelista Veriano, professor de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
O apartheid oficializou-se em 1948 com a posse do primeiro-ministro Daniel François Malan, descendente dos colonizadores europeus - também chamados de africâners. "Embora a história oficial omita, sabemos que os ingleses foram os financiadores do apartheid, já que o Banco da Inglaterra custeava todos os atos do governo sul-africano", afirma Veriano.
Com o novo governo, o apartheid foi colocado em prática, instituindo uma série de políticas de segregação. Os negros eram impedidos de participar da vida política do país, não tinham acesso à propriedade da terra, eram obrigados a viver em zonas residenciais determinadas. O casamento inter-racial era proibido e uma espécie de passaporte controlava a circulação dos negros pelo país. "É importante lembrar que essa política teve clara inspiração nazista", diz o professor.
Embora tenha sido preso diversas vezes antes, Mandela já cumpria pena desde 1963 quando recebeu a sentença de prisão perpétua. Porém, com o passar dos anos, o mundo passou a se importar mais com a inadmissível situação da África do Sul, que começou a receber sanções econômicas como forma de pressão para acabar com o apartheid. Em 1990, com o regime já enfraquecido, Mandela foi solto, depois de 27 anos no cárcere. O governo, liderado por Frederik De Klerk, revogou as leis do apartheid. Três anos depois, Mandela e Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz.
Em 1994, nas primeiras eleições em que os negros puderam votar, Mandela foi eleito presidente do país. O filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, em cartaz atualmente nos cinemas, tem como foco a história de Mandela (interpretado por Morgan Freeman) logo que ele assume a presidência. A obra mostra como o líder governou não com a intenção de se vingar dos brancos, mas sim de realmente transformar o país em uma democracia para todos.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/foi-apartheid-africa-sul-533369.shtml
domingo, 23 de outubro de 2011
1ª. Série do Ensino Médio - 24/10/2011 - Revolução Inglesa - Atividade Avaliativa em sala de aula.
A Revolução Inglesa do século XVII representou a primeira manifestação de crise do sistema da época moderna, identificado com o absolutismo. O poder monárquico, severamente limitado, cedeu a maior parte de suas prerrogativas ao Parlamento e instaurou-se o regime parlamentarista que permanece até hoje. O processo que começou com a Revolução Puritana de 1640 e terminou com a Revolução Gloriosa de 1688.
domingo, 16 de outubro de 2011
3ª. Série do EM - Aula 17/10/2010 - A Crise na Iugoslávia
A ex-República Socialista Federativa da Iugoslávia desintegrou-se pela guerra civil étnica desencadeada nos princípios da década de 1990. As várias etnias que a compõem (sérvios, croatas, eslovênios, montenegrinos, albaneses e macedônicos), a partir do colapso do socialismo, retomaram as antigas guerras tribais que tanto infelicitaram a região, aquela esquina do mundo, onde, no passado, interesses conflitantes das grandes potência imperais (da Áustria, da Rússia, da Turquia otomana) se encontravam, acirrando o ódio das populações locais, umas contra as outras. Quando todos analistas pensavam que as velhas rivalidades e antigos ódios estivessem sepultados por mais de quarenta anos de convívio de paz sob um regime comum (o comunismo não-stalinista de Tito), eis que os fantasmas vingativos, vindo de tempos remotos, resolveram reaparecer para uma mortífero acerto de contas entre as diversas tribos balcânicas, banhando as montanhas, os vales e as cidades da Iugoslávia com o sangue dos inocentes. Como uma mancha, o desacerto intra-étnico começou em 1990 com a "guerra dos dez dias" da Eslovênia contra o exército iugoslavo, estendendo-se depois para o centro e finalmente chegando, dez anos depois, à Macedônia, a mais meridional das repúblicas balcânicas. Churchill disse certa vez que os Bálcãs produziam mais história do que podiam consumir, enquanto Otto von Bismarck, o chanceler alemão, desprezava aquela região pobre, assegurando que "os Bálcãs não valem os ossos de um granadeiro alemão."
Texto 01.
Vídeo 01.
Vídeo 02
domingo, 2 de outubro de 2011
4º. Bimestre - 3ª.Série EM - Oriente Médio - 03/10/2011
Israel e Palestina: origens da disputa
Em 29 de novembro de 1947, a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu que uma pequena região do Oriente Médio abrigaria dois Estados, um israelense e outro palestino. Só o primeiro vingou, mas não sem que o sangue corresse na região.
A recente reunião da Assembléia Geral da ONU, na qual a criação do Estado Palestino entrou novamente em pauta, prova que, na prática, aquele dia ainda não acabou.
Passados mais de 60 anos, os conflitos continuam, com palestinos subjugados e ainda em busca de uma pátria. O sonhado retorno à Terra Santa também custou caro aos judeus, obrigados a viver ou em guerra ou em períodos intermitentes do que se poderia chamar de “paz armada”.
Textos:
História sem fimDesde 1947, quando a ONU decidiu criar dois Estados na Palestina, o mapa da região já foi redesenhado inúmeras vezes por uma sucessão de guerras
Uma terra, dois povos
A divisão da Palestina entre judeus e árabes foi um quebra-cabeça que começou a ser montado na Primeira Guerra. O minúsculo território deveria abrigar dois Estados. Um vingou; outro, ao menos por enquanto, ainda é uma promessa
Em busca de uma pátriaOs palestinos se dizem herdeiros dos cananeus e reivindicam a posse da terra dividida. Em 4 mil anos, esse povo sofreu a dominação de egípcios, babilônios, gregos, romanos e otomanos, e até hoje não tem um Estado.
A ascensão dos fundamentalistasO nascimento do islamismo radical como força política tem data: junho de 1967. Naquele mês, Israel venceu a Guerra dos Seis Dias e sepultou o nacionalismo árabe, abrindo caminho para os extremistas.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
3ª. Série do EM - Aula 26/09/2011 - Descolonização da Ásia e África
Após a II Guerra, ruem os antigos impérios coloniais e surgem novas nações na Ásia e na África. O processo de independência segue caminhos diversos: das guerras de libertação, estimuladas pelo Komintern, à resistência pacífica ou às gestões diplomáticas para obter a autonomia.
ÁSIA
A independência das Filipinas, em 5/7/1945, se efetiva em 12/6/1946, com a proclamação da República por Manuel Roxas. Na Indonésia, a guerra contra a colonização holandesa começa em 15/8/1945 e se estende até a proclamação da República, em 17/8/1950, pelo líder nacionalista Sukarno.
Em 15/6/1947, as tropas soviéticas saem do Irã, onde estavam desde 1941. A independência da Índia e do Paquistão, em 15/8/1947, assinala o fim do domínio britânico no subcontinente. Assiste-se à emancipação da Birmânia, em 4/1/1948, e do Ceilão (atual Sri Lanka), em 4/2/1948.
Guerra da Indochina - No início do séc. XX surge, na União Indochinesa (a colônia francesa da Cochinchina e os protetorados do Camboja, Anã, Tonquim e Laos), a oposição nacionalista vietnamita, dividida no Partido Nacional do Vietnã, que deseja aliar-se à China de Chiang Kaishek, e no Partido Comunista Indochinês, fundado por Ho Chi Minh , que, em 1941, cria o Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã), contra os invasores japoneses. Em março de 1945, estes tinham expulsado os franceses, entregando o governo de Saigon ao imperador Bao Dai.
No final da II Guerra, o Vietminh alia-se aos nacionalistas que se opõem a Bao Dai e instalam, em Hanói, uma República Democrática reconhecida, em março de 1946, pela França, interessada em recuperar o controle sobre a região.
Paralelamente, em 1º/6/1946, o comissário francês para a Indochina, Thierry d'Argenlieu, apóia, em Saigon, a criação de uma República da Cochinchina - o que faz com que a França reconheça dois governos de fato na região.
Luta no Vietnã - As negociações com Hanói, sobre o retorno da administração colonial no Sul, chegam a um impasse. Diante disso, a França bombardeia Haiphong, em 24/11/1946. Após o fracasso, em 19/12/1946, de um golpe Vietminh em Saigon, Ho passa à clandestinidade e o general Vo Nguyen Giap dá início à guerra de guerrilhas.
A recusa de Ho em aceitar os acordos de 5/6/1948 e 8/3/1949, que reconhecem a independência dentro da União Francesa, tendo Bao Dai como chefe de Estado, faz o conflito ampliar-se em nível internacional. A essa altura, o Vietminh é apoiado pela China, e a França, pelos EUA.
Divisão - Depois da tomada, em 7/5/1954, da base francesa de Diem Bien Phu, no delta de Tonquim, pelo general Vo, aceleram-se as negociações que levam ao Acordo de Genebra, de 21/7/1954, pelo qual o país é temporariamente dividido, na altura do paralelo 17, até as eleições.
Estas deveriam realizar-se após julho de 1956, mas nunca serão convocadas. Bao Dai nomeia o 1º-ministro Ngo Dinh Diem, enquanto o Vietminh assume formalmente, em 2/9/1945, o controle do Norte. Na guerra, a França perde 92.800 dos 470 mil soldados da tropa colonial e da metrópole; o Vietminh possui 375 mil soldados, mas não há dados exatos sobre suas perdas. A guerra repercute também nos dois outros países da Indochina.
Laos - Autônomo desde 1949, divide-se em três grupos políticos: os neutralistas, do príncipe Suvana Fuma; os pró-comunistas, do príncipe Suvanavong; e os nacionalistas de direita, do general Fumi Nosavan. Em 1950, Suvanavong funda o Pathet Lao (Laos Livre), dissidência do movimento de resistência anticolonialista Lao Issarak. P
assa a controlar as regiões de fronteira com o Camboja e o Vietnã, em aliança com os revolucionários desses países; e boicota as eleições exigidas pela Conferência de Genebra (1954), que determinara a partilha da Indochina e a independência do Laos.
Entre 1956 e 1960, os ataques do Pathet Lao e as tentativas de golpe de Fumi desgastam a coalizão de Suvana Fuma, que tem de fugir para o Camboja. Pressionadas por tropas americanas, as três facções concordam, na II Conferência de Genebra, de 1962, com a neutralidade do país e o retorno de Suvana.
Camboja - Autônomo dentro da União Francesa desde 1946, torna-se independente em 1954 e seu chefe de Estado, o príncipe Norodom Sihanuk, declara-o neutro. Mas essa posição não agrada à extrema direita das Forças Armadas, em vista do aparecimento do Khmer Vermelho, grupo de extrema esquerda que age na clandestinidade. Em 18/3/1970, o golpe do general Lon Nol derruba Sihanuk e permite a entrada de tropas americanas no país, para combater o Khmer Vermelho e seus aliados do vietcong.
Subcontinente indiano - No início do séc. XX, a Índia, cujo território incorpora os atuais Paquistão e Bangladesh, é o centro do Império Britânico. O movimento de libertação é organizado, a partir de 1919, pelo advogado hindu Mohandas Ghandi, que viria a ser conhecido como o Mahatma (grande alma). Ele prega a resistência pacífica e luta por reformas sociais e econômicas que dêem melhores condições de vida a 60 milhões de párias contra os monopólios britânicos.
Em 1942, o Partido do Congresso (P do C), fundado pelos hindus em 1885, rompe com a Liga Muçulmana (LM), criada por Mohamed Ali Jinná, pois esta deseja formar um Estado muçulmano independente no Paquistão, englobando o Baluquistão, o Punjab ocidental, o Sind e Bengala Or. (Bangladesh). O P do C é posto na ilegalidade, enquanto a LM, em troca do apoio à Grã-Bretanha na II Guerra, é autorizada a funcionar.
Cisão - Em 1947, surgem duas nações independentes: a Índia, liderada por Jauaharlal Nehru, e o Paquistão, tendo Liaqat Ali Cã como 1º-ministro. Mas os conflitos entre hindus e muçulmanos continuam, custando mais de 1 milhão de vidas. Os dois novos países disputam pelas armas os Estados de Jammu e Cachemira; o cessar-fogo obtido pela ONU não põe fim ao litígio e, em 1957, contrariando a resolução da Assembléia Geral, a Índia anexa a parte da Cachemira que ocupou.
Guerra Indo-chinesa - Começa em 20/10/1962; suas causas são o litígio sobre territórios fronteiriços, a ajuda indiana à guerrilha antichinesa do Tibete e o apoio chinês às reivindicações paquistanesas sobre a Cachemira.
A rápida vitória chinesa acelera o programa nuclear da Índia, que explodirá sua primeira bomba atômica (1974).
Guerra Indo-paquistanesa - Em 25/8/1965, o Paquistão tenta uma vez mais recuperar a Cachemira; mas é derrotado em 22/9. Um acordo será assinado, no ano seguinte, pelo 1º-ministro Lal Bahadur Shastri e pelo presidente general Ayub Cã.
Secessão - Em 23/3/1971, o Paquistão Or. começa a luta pela independência, proclamando, em 17/4, a República de Bangladesh. Mas como seu território continua ocupado por tropas de Islamabad, a Índia, em 3/12, invade o Paquistão, que se rende em 16/12, sendo forçado a reconhecer o novo país. Em 28/8/1973, é assinado acordo para resolver os problemas criados pela guerra, entre os quais o da troca de prisioneiros.
ÁFRICA
No fim da II Guerra, a França promete revisar o estatuto que limita o acesso dos nativos à cidadania e dar certo grau de autonomia a seus territórios de ultramar. E a Grã-Bretanha prevê, para futuro remoto, a representação majoritária dos colonizados no governo de suas próprias nações.
Começam a surgir, entretanto, movimentos de libertação nacional nos países árabes do norte da África (o Neo-Destur tunisiano, a Frente de Libertação Nacional argelina, os nacionalistas e pan-arabistas egípcios e sírios).
Na África negra, a consciência da necessidade de autodeterminação provém da ocidentalização das elites intelectuais e das transformações sociais decorrentes da exploração econômica européia. O processo de independência desses países, entretanto, é desigual e, em muitos casos, a emancipação só será conquistada à custa de lutas demoradas.
Países árabes - A independência do Egito é obtida com a revolução nacionalista de 1952; constitui-se em seguida, com a Síria e o Iêmen, a República Árabe Unida, que dura até 1961. No plebiscito de 1956, o Sudão decide separar-se do Egito.
Nesse mesmo ano, a ONU confirma a independência que a Líbia - perdida pela Itália na II Guerra - obtivera em 1951, e o Marrocos e a Tunísia conseguem que a França lhes dê autonomia. Mas a independência da Argélia terá de ser arrancada por uma guerra civil, fruto do descontentamento árabe com a política de confisco de terras (em 1950, um terço dos melhores terrenos estava nas mãos dos colonizadores).
Guerra da Argélia - Nem a extensão da cidadania francesa aos argelinos (1947), nem a abertura de postos aos muçulmanos no serviço público conseguem conter a agitação. O conflito é desencadeado pelos atentados com que, em 31/10/1954, a Frente de Libertação Nacional (FLN) responde aos atos terroristas antiárabes dos extremistas pied noir (colonos franceses).
Tropas coloniais, reforçadas pela metrópole, obtêm vitórias iniciais. Mas a FLN, unida aos comunistas, desencadeia extensa campanha de terrorismo urbano em agosto de 1956. Na Batalha de Argel, de janeiro a setembro de 1957, o general Jacques Massu desmantela a organização terrorista, o que contribui para separar ainda mais as comunidades européia e muçulmana.
Na França, a guerra divide a opinião pública: a passividade da IV República, incapaz de reprimir a rebelião e de impor reformas decisivas, e a suspeita de que há negociações secretas entre Paris e a FLN geram a crise de maio de 1958, que resulta na volta do general De Gaulle ao poder em 21/12/1958.
Em setembro de 1958, no Cairo, constitui-se, sob a presidência de Ferhat Abbas, o Governo Provisório da República Argelina (GPRA). Mas só depois do referendo de 3/1/1961 De Gaulle tem carta branca para negociar a paz.
Decidida, no entanto, a impedir a independência, a ala conservadora do Exército, liderada pelos general Maurice Challe, André Zeller, Edmond Jouhaud e Raoul Salan, tenta um golpe entre 21 e 26/4/1961; derrotada, entra para a clandestinidade, forma a Organização do Exército Secreto e promove novas ações terroristas, fazendo o GPRA retomar as negociações: em 18/3/1962, o Acordo de Evian reconhece a soberania da Argélia.
Dos 2 milhões de franceses envolvidos no conflito, 24.614 morrem e 64.985 ficam feridos: segundo estimativa da FLN, suas
perdas totais elevam-se a 1 milhão de homens.
Os acontecimentos na Argélia contribuem para apressar a abolição do protetorado francês, no Marrocos, e espanhol, no Riff. Em 1969, o enclave espanhol do Ifni é anexado ao território marroquino. Mas a Espanha permanece no Rio de Oro (atual Saara Ocidental), de onde só se retirará em 1976.
Países negros - Das colônias francesas, a Guiné é a única a optar pela independência no plebiscito de 1958, organizado por De Gaulle. As demais preferem esperar pela reforma constitucional de 1960, que lhes permite ficar na Comunidade Francesa e conservar a ajuda econômica da metrópole, participando, por seu intermédio, da CEE e tendo sua moeda (o franco CFA, divisa dos países membros da Comunidade Financeira Africana) alinhada à da França. Em 1960, é negociado, na ONU, o fim dos mandatos franco-britânicos no Togo e Camarões.
Colônias britânicas - Gana é a primeira a se emancipar, em 1957. À exceção do Quênia, onde há a rebelião Mau Mau, os conflitos com os nativos não assumem proporções extremas e, até 1968, todas as colônias e protetorados estão independentes: a Nigéria em 1960; Serra Leoa e Tanganica em 1961; Uganda em 1962; o Quênia em 1963; Zâmbia, Malavi e Zanzibar em 1964; Gâmbia em 1965; Botsuana e Lesoto em 1966; Suazilândia e Maurício em 1968. Em 1964, Zanzibar une-se a Tanganica, formando a Tanzânia.
A minoria branca da Rodésia declara a independência unilateral em 1965, só reconhecida pela Grã-Bretanha em 1980, quando o país, que passará a chamar-se Zimbábue, já está sob controle de um governo negro. Em 1960, a Somalilândia britânica obtém permissão para integrar-se à República da Somália, originada da ex-colônia italiana.
Colônias belgas - No Congo e em Ruanda-Urundi a emancipação é obtida à custa de guerras desgastantes. No primeiro, após sangrentas manifestações que forçam Bruxelas a conceder independência, em 28/6/1960, o país mergulha na guerra civil: há três grupos lutando pelo poder, sob a liderança do conservador Joseph Kasavubu, do comunista Patrice Lumumba e de Moïse Tshombe, que conta com apoio belga.
Ela se encerra com o golpe do coronel Joseph Mobutu, que, mais tarde, adotará o nome de Mobutu Sese Seko. Derrubando Lumumba, afasta os demais líderes e instaura um regime forte, ainda hoje vigente no atual Zaire.
Em Ruanda-Urundi, herdada da Alemanha após a I Guerra, a luta pela independência confunde-se com a guerra da maioria hutu contra os dominadores uatutsi. O plebiscito de 1962 separa Ruanda e o Burundi; mas os conflitos interétnicos permanecem até hoje.
Colônias portuguesas - Só se libertam após a Revolução dos Cravos, de 1974, em Portugal. Mas, desde a década de 60, a metrópole vinha enfrentando movimentos rebeldes.
Em 1961, a União dos Povos Angolanos (UPA) fixa posições no nordeste da colônia. Em 1966, o Movimento Popular para a Libertação de Angola, fundado em 1956 por Agostinho Neto, e a União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), criada por Jonas Savimbi em 1966, abrem novas frentes.
Mas, apesar de seu crescimento e da ajuda externa que recebem, esses movimentos permanecem divididos. Uma tentativa de superar divergências é a união de Agostinho Neto com Holden Roberto, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), em 1972.
O acordo de Alvor, de 15/1/1975, promete a independência para 11/11; mas os litígios entre os movimentos de libertação fazem com que o governo português o revogue, em 29/8, retirando-se de Angola sem ato oficial de passagem do poder, para demonstrar que não apoiava nenhum dos grupos em luta.
A rebelião, na Guiné-Bissau, também começa em 1961, sob a liderança de Amílcar Cabral, do Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Em setembro de 1973, à revelia de Portugal, o PAIGC anuncia a independência da Guiné-Bissau e o governo de Luís Cabral é reconhecido pela ONU. A revolta da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) é um pouco mais tardia (setembro de 1964).
O assassinato de seu líder, Eduardo Mondlane, em 5/2/1969, retarda o processo; mas o movimento é encabeçado por Samora Machel, que reivindica a independência. O novo governo português acelera a descolonização, assinando acordos preliminares com o PAIGC, em Argel (26/8/1974), e com a Frelimo, em Lusaca (7/9/1974). A independência definitiva da Guiné-Bissau vem em 10/9/1974 e a de Moçambique em 24/6/1975.
ÁSIA
A independência das Filipinas, em 5/7/1945, se efetiva em 12/6/1946, com a proclamação da República por Manuel Roxas. Na Indonésia, a guerra contra a colonização holandesa começa em 15/8/1945 e se estende até a proclamação da República, em 17/8/1950, pelo líder nacionalista Sukarno.
Em 15/6/1947, as tropas soviéticas saem do Irã, onde estavam desde 1941. A independência da Índia e do Paquistão, em 15/8/1947, assinala o fim do domínio britânico no subcontinente. Assiste-se à emancipação da Birmânia, em 4/1/1948, e do Ceilão (atual Sri Lanka), em 4/2/1948.
Guerra da Indochina - No início do séc. XX surge, na União Indochinesa (a colônia francesa da Cochinchina e os protetorados do Camboja, Anã, Tonquim e Laos), a oposição nacionalista vietnamita, dividida no Partido Nacional do Vietnã, que deseja aliar-se à China de Chiang Kaishek, e no Partido Comunista Indochinês, fundado por Ho Chi Minh , que, em 1941, cria o Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã), contra os invasores japoneses. Em março de 1945, estes tinham expulsado os franceses, entregando o governo de Saigon ao imperador Bao Dai.
No final da II Guerra, o Vietminh alia-se aos nacionalistas que se opõem a Bao Dai e instalam, em Hanói, uma República Democrática reconhecida, em março de 1946, pela França, interessada em recuperar o controle sobre a região.
Paralelamente, em 1º/6/1946, o comissário francês para a Indochina, Thierry d'Argenlieu, apóia, em Saigon, a criação de uma República da Cochinchina - o que faz com que a França reconheça dois governos de fato na região.
Luta no Vietnã - As negociações com Hanói, sobre o retorno da administração colonial no Sul, chegam a um impasse. Diante disso, a França bombardeia Haiphong, em 24/11/1946. Após o fracasso, em 19/12/1946, de um golpe Vietminh em Saigon, Ho passa à clandestinidade e o general Vo Nguyen Giap dá início à guerra de guerrilhas.
A recusa de Ho em aceitar os acordos de 5/6/1948 e 8/3/1949, que reconhecem a independência dentro da União Francesa, tendo Bao Dai como chefe de Estado, faz o conflito ampliar-se em nível internacional. A essa altura, o Vietminh é apoiado pela China, e a França, pelos EUA.
Divisão - Depois da tomada, em 7/5/1954, da base francesa de Diem Bien Phu, no delta de Tonquim, pelo general Vo, aceleram-se as negociações que levam ao Acordo de Genebra, de 21/7/1954, pelo qual o país é temporariamente dividido, na altura do paralelo 17, até as eleições.
Estas deveriam realizar-se após julho de 1956, mas nunca serão convocadas. Bao Dai nomeia o 1º-ministro Ngo Dinh Diem, enquanto o Vietminh assume formalmente, em 2/9/1945, o controle do Norte. Na guerra, a França perde 92.800 dos 470 mil soldados da tropa colonial e da metrópole; o Vietminh possui 375 mil soldados, mas não há dados exatos sobre suas perdas. A guerra repercute também nos dois outros países da Indochina.
Laos - Autônomo desde 1949, divide-se em três grupos políticos: os neutralistas, do príncipe Suvana Fuma; os pró-comunistas, do príncipe Suvanavong; e os nacionalistas de direita, do general Fumi Nosavan. Em 1950, Suvanavong funda o Pathet Lao (Laos Livre), dissidência do movimento de resistência anticolonialista Lao Issarak. P
assa a controlar as regiões de fronteira com o Camboja e o Vietnã, em aliança com os revolucionários desses países; e boicota as eleições exigidas pela Conferência de Genebra (1954), que determinara a partilha da Indochina e a independência do Laos.
Entre 1956 e 1960, os ataques do Pathet Lao e as tentativas de golpe de Fumi desgastam a coalizão de Suvana Fuma, que tem de fugir para o Camboja. Pressionadas por tropas americanas, as três facções concordam, na II Conferência de Genebra, de 1962, com a neutralidade do país e o retorno de Suvana.
Camboja - Autônomo dentro da União Francesa desde 1946, torna-se independente em 1954 e seu chefe de Estado, o príncipe Norodom Sihanuk, declara-o neutro. Mas essa posição não agrada à extrema direita das Forças Armadas, em vista do aparecimento do Khmer Vermelho, grupo de extrema esquerda que age na clandestinidade. Em 18/3/1970, o golpe do general Lon Nol derruba Sihanuk e permite a entrada de tropas americanas no país, para combater o Khmer Vermelho e seus aliados do vietcong.
Subcontinente indiano - No início do séc. XX, a Índia, cujo território incorpora os atuais Paquistão e Bangladesh, é o centro do Império Britânico. O movimento de libertação é organizado, a partir de 1919, pelo advogado hindu Mohandas Ghandi, que viria a ser conhecido como o Mahatma (grande alma). Ele prega a resistência pacífica e luta por reformas sociais e econômicas que dêem melhores condições de vida a 60 milhões de párias contra os monopólios britânicos.
Em 1942, o Partido do Congresso (P do C), fundado pelos hindus em 1885, rompe com a Liga Muçulmana (LM), criada por Mohamed Ali Jinná, pois esta deseja formar um Estado muçulmano independente no Paquistão, englobando o Baluquistão, o Punjab ocidental, o Sind e Bengala Or. (Bangladesh). O P do C é posto na ilegalidade, enquanto a LM, em troca do apoio à Grã-Bretanha na II Guerra, é autorizada a funcionar.
Cisão - Em 1947, surgem duas nações independentes: a Índia, liderada por Jauaharlal Nehru, e o Paquistão, tendo Liaqat Ali Cã como 1º-ministro. Mas os conflitos entre hindus e muçulmanos continuam, custando mais de 1 milhão de vidas. Os dois novos países disputam pelas armas os Estados de Jammu e Cachemira; o cessar-fogo obtido pela ONU não põe fim ao litígio e, em 1957, contrariando a resolução da Assembléia Geral, a Índia anexa a parte da Cachemira que ocupou.
Guerra Indo-chinesa - Começa em 20/10/1962; suas causas são o litígio sobre territórios fronteiriços, a ajuda indiana à guerrilha antichinesa do Tibete e o apoio chinês às reivindicações paquistanesas sobre a Cachemira.
A rápida vitória chinesa acelera o programa nuclear da Índia, que explodirá sua primeira bomba atômica (1974).
Guerra Indo-paquistanesa - Em 25/8/1965, o Paquistão tenta uma vez mais recuperar a Cachemira; mas é derrotado em 22/9. Um acordo será assinado, no ano seguinte, pelo 1º-ministro Lal Bahadur Shastri e pelo presidente general Ayub Cã.
Secessão - Em 23/3/1971, o Paquistão Or. começa a luta pela independência, proclamando, em 17/4, a República de Bangladesh. Mas como seu território continua ocupado por tropas de Islamabad, a Índia, em 3/12, invade o Paquistão, que se rende em 16/12, sendo forçado a reconhecer o novo país. Em 28/8/1973, é assinado acordo para resolver os problemas criados pela guerra, entre os quais o da troca de prisioneiros.
ÁFRICA
No fim da II Guerra, a França promete revisar o estatuto que limita o acesso dos nativos à cidadania e dar certo grau de autonomia a seus territórios de ultramar. E a Grã-Bretanha prevê, para futuro remoto, a representação majoritária dos colonizados no governo de suas próprias nações.
Começam a surgir, entretanto, movimentos de libertação nacional nos países árabes do norte da África (o Neo-Destur tunisiano, a Frente de Libertação Nacional argelina, os nacionalistas e pan-arabistas egípcios e sírios).
Na África negra, a consciência da necessidade de autodeterminação provém da ocidentalização das elites intelectuais e das transformações sociais decorrentes da exploração econômica européia. O processo de independência desses países, entretanto, é desigual e, em muitos casos, a emancipação só será conquistada à custa de lutas demoradas.
Países árabes - A independência do Egito é obtida com a revolução nacionalista de 1952; constitui-se em seguida, com a Síria e o Iêmen, a República Árabe Unida, que dura até 1961. No plebiscito de 1956, o Sudão decide separar-se do Egito.
Nesse mesmo ano, a ONU confirma a independência que a Líbia - perdida pela Itália na II Guerra - obtivera em 1951, e o Marrocos e a Tunísia conseguem que a França lhes dê autonomia. Mas a independência da Argélia terá de ser arrancada por uma guerra civil, fruto do descontentamento árabe com a política de confisco de terras (em 1950, um terço dos melhores terrenos estava nas mãos dos colonizadores).
Guerra da Argélia - Nem a extensão da cidadania francesa aos argelinos (1947), nem a abertura de postos aos muçulmanos no serviço público conseguem conter a agitação. O conflito é desencadeado pelos atentados com que, em 31/10/1954, a Frente de Libertação Nacional (FLN) responde aos atos terroristas antiárabes dos extremistas pied noir (colonos franceses).
Tropas coloniais, reforçadas pela metrópole, obtêm vitórias iniciais. Mas a FLN, unida aos comunistas, desencadeia extensa campanha de terrorismo urbano em agosto de 1956. Na Batalha de Argel, de janeiro a setembro de 1957, o general Jacques Massu desmantela a organização terrorista, o que contribui para separar ainda mais as comunidades européia e muçulmana.
Na França, a guerra divide a opinião pública: a passividade da IV República, incapaz de reprimir a rebelião e de impor reformas decisivas, e a suspeita de que há negociações secretas entre Paris e a FLN geram a crise de maio de 1958, que resulta na volta do general De Gaulle ao poder em 21/12/1958.
Em setembro de 1958, no Cairo, constitui-se, sob a presidência de Ferhat Abbas, o Governo Provisório da República Argelina (GPRA). Mas só depois do referendo de 3/1/1961 De Gaulle tem carta branca para negociar a paz.
Decidida, no entanto, a impedir a independência, a ala conservadora do Exército, liderada pelos general Maurice Challe, André Zeller, Edmond Jouhaud e Raoul Salan, tenta um golpe entre 21 e 26/4/1961; derrotada, entra para a clandestinidade, forma a Organização do Exército Secreto e promove novas ações terroristas, fazendo o GPRA retomar as negociações: em 18/3/1962, o Acordo de Evian reconhece a soberania da Argélia.
Dos 2 milhões de franceses envolvidos no conflito, 24.614 morrem e 64.985 ficam feridos: segundo estimativa da FLN, suas
perdas totais elevam-se a 1 milhão de homens.
Os acontecimentos na Argélia contribuem para apressar a abolição do protetorado francês, no Marrocos, e espanhol, no Riff. Em 1969, o enclave espanhol do Ifni é anexado ao território marroquino. Mas a Espanha permanece no Rio de Oro (atual Saara Ocidental), de onde só se retirará em 1976.
Países negros - Das colônias francesas, a Guiné é a única a optar pela independência no plebiscito de 1958, organizado por De Gaulle. As demais preferem esperar pela reforma constitucional de 1960, que lhes permite ficar na Comunidade Francesa e conservar a ajuda econômica da metrópole, participando, por seu intermédio, da CEE e tendo sua moeda (o franco CFA, divisa dos países membros da Comunidade Financeira Africana) alinhada à da França. Em 1960, é negociado, na ONU, o fim dos mandatos franco-britânicos no Togo e Camarões.
Colônias britânicas - Gana é a primeira a se emancipar, em 1957. À exceção do Quênia, onde há a rebelião Mau Mau, os conflitos com os nativos não assumem proporções extremas e, até 1968, todas as colônias e protetorados estão independentes: a Nigéria em 1960; Serra Leoa e Tanganica em 1961; Uganda em 1962; o Quênia em 1963; Zâmbia, Malavi e Zanzibar em 1964; Gâmbia em 1965; Botsuana e Lesoto em 1966; Suazilândia e Maurício em 1968. Em 1964, Zanzibar une-se a Tanganica, formando a Tanzânia.
A minoria branca da Rodésia declara a independência unilateral em 1965, só reconhecida pela Grã-Bretanha em 1980, quando o país, que passará a chamar-se Zimbábue, já está sob controle de um governo negro. Em 1960, a Somalilândia britânica obtém permissão para integrar-se à República da Somália, originada da ex-colônia italiana.
Colônias belgas - No Congo e em Ruanda-Urundi a emancipação é obtida à custa de guerras desgastantes. No primeiro, após sangrentas manifestações que forçam Bruxelas a conceder independência, em 28/6/1960, o país mergulha na guerra civil: há três grupos lutando pelo poder, sob a liderança do conservador Joseph Kasavubu, do comunista Patrice Lumumba e de Moïse Tshombe, que conta com apoio belga.
Ela se encerra com o golpe do coronel Joseph Mobutu, que, mais tarde, adotará o nome de Mobutu Sese Seko. Derrubando Lumumba, afasta os demais líderes e instaura um regime forte, ainda hoje vigente no atual Zaire.
Em Ruanda-Urundi, herdada da Alemanha após a I Guerra, a luta pela independência confunde-se com a guerra da maioria hutu contra os dominadores uatutsi. O plebiscito de 1962 separa Ruanda e o Burundi; mas os conflitos interétnicos permanecem até hoje.
Colônias portuguesas - Só se libertam após a Revolução dos Cravos, de 1974, em Portugal. Mas, desde a década de 60, a metrópole vinha enfrentando movimentos rebeldes.
Em 1961, a União dos Povos Angolanos (UPA) fixa posições no nordeste da colônia. Em 1966, o Movimento Popular para a Libertação de Angola, fundado em 1956 por Agostinho Neto, e a União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), criada por Jonas Savimbi em 1966, abrem novas frentes.
Mas, apesar de seu crescimento e da ajuda externa que recebem, esses movimentos permanecem divididos. Uma tentativa de superar divergências é a união de Agostinho Neto com Holden Roberto, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), em 1972.
O acordo de Alvor, de 15/1/1975, promete a independência para 11/11; mas os litígios entre os movimentos de libertação fazem com que o governo português o revogue, em 29/8, retirando-se de Angola sem ato oficial de passagem do poder, para demonstrar que não apoiava nenhum dos grupos em luta.
A rebelião, na Guiné-Bissau, também começa em 1961, sob a liderança de Amílcar Cabral, do Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Em setembro de 1973, à revelia de Portugal, o PAIGC anuncia a independência da Guiné-Bissau e o governo de Luís Cabral é reconhecido pela ONU. A revolta da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) é um pouco mais tardia (setembro de 1964).
O assassinato de seu líder, Eduardo Mondlane, em 5/2/1969, retarda o processo; mas o movimento é encabeçado por Samora Machel, que reivindica a independência. O novo governo português acelera a descolonização, assinando acordos preliminares com o PAIGC, em Argel (26/8/1974), e com a Frelimo, em Lusaca (7/9/1974). A independência definitiva da Guiné-Bissau vem em 10/9/1974 e a de Moçambique em 24/6/1975.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
3ª. Série do EM - Aula 19/09/2011 - Segunda Guerra Mundial
O expansionismo anterior a Segunda Guerra
O Expansionismo Italiano
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Após 10 anos do golpe que implantou o fascismo na Itália, Mussolini iniciou uma política externa agressiva, com o objetivo de ampliar seus territórios coloniais, resolver seus problemas econômicos e reafirmar a posição do país na Europa. O Duce era não apenas o chefe de Estado, mas o comandante supremo das Forças Armadas, controlando diretamente os Ministérios da Guerra, Marinha e Aeronáutica.
A política expansionista iniciou-se em outubro de 1935 com a invasão da Etiópia, na África, que caiu sob domínio italiano em maio do ano seguinte. Ainda em 1936, a Itália enviou tropas para combater na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos falangistas comandados pelo general Francisco Franco, aproximando ao mesmo tempo da política de Hitler. Ssim, a 24 de outubro de 1936 foi formalizado o eixo Roma-Berlim, que definiu a linha do expansionismo dos dois países.
Em abril de 1939, Mussolini promoveu a invasão e anexação da Albânia.
O Expansionismo japonês
O Japão também sofreu os efeitos da crise de 1929. Na década de 30 as diferenças socioeconômicas acentuaram-se, destacando o nítido empobrecimento da classe operária. A alternativa para essa situação, foi a continuidade da sua política imperialista, iniciada em fins do século XIX com as invasões da China e da Coréia, fato que manteve a exigência de altos investimentos na estrutura militar.
Se até a década de 30 o Japão foi mais um dos países imperialistas, na década de 30 passou a uma política mais agressiva, chocando-se com os interesses das grandes potências no oriente. Em 1931 invadiu a Mandchúria, em 1933 retirou-se da Liga das Nações e fez da Mandchúria a base para o novo império asiático que pretendia instaurar. Em setembro de 1940 firmou um pacto com a Alemanha e Itália. Assim, em 1940, invadiu a Indochina, colônia francesa, de onde pretendiam retirar borracha, estanho, petróleo e quinino e ao mesmo tempo abrir caminho para uma ocupação mais efetiva no sudeste asiático.
O Expansionismo Alemão
As ações políticas de Hitler combinavam suas necessidades internas e externas. Um dos mais graves problemas da Alemanha era o desemprego. Para atacar este problema, o Führer abriu frentes de trabalho, empregando cerca de 1 milhão de pessoas, em obras de emergência e atividades paramilitares. Em 1935 foi reaberto o alistamento militar, com o intuito de elevar o efetivo militar a 500 mil homens, apesar da proibição do Tratado de Versalhes. Em 1936 iniciou-se a remilitarização da Renânia, na fronteira com a França. Desta maneira saneava-se a situação social interna e ao mesmo tempo desenvolvia-se a política externa, ainda no sentido da preparação do expansionismo. A geração de empregos esteve diretamente associada a militarização e a industrialização do país, destacando-se a indústria bélica. Preparava o avanço da Alemanha sobre os territórios considerados usurpados do país ao final da Primeira Guerra.
Em março de 1938 efetivou-se o Anchluss -- anexação da Áustria pela Alemanha -, utilizando-se o argumento racial, a unidade dos povos germânicos; aproveitando-se ainda da fraqueza do governo austríaco e de sua instabilidade econômica, constantemente agravada desde o final da Primeira Guerra.
O mesmo argumento racial foi utilizado por Hitler para avançar em direção a Tchecoslováquia, país formado após a Primeira Guerra, com o fim do Império Áustro-Húngaro. Nesse novo país, a região dos Sudetos era formada em sua maioria por alemães, que, insuflados por Hitler, passaram a exigir autonomia. A mobilização de tropas tchecas e francesas fez com que se buscasse um acordo diplomático. Realizou-se então a Conferência de Munique (setembro de 1938), que acabou por determinar que os Sudetos deveriam ser entregues a Alemanha. A Tchecoslováquia, isolada, foi obrigada a entregar 20% de seu território.
As potências ocidentais colocavam em prática a "política de apaziguamento" acreditando que dessa maneira conseguiriam frear a expansão do nazismo, através da definição de fronteiras européias e da declaração anglo-alemã e franco-alemã de não agressão.
O Expansionismo Italiano
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Após 10 anos do golpe que implantou o fascismo na Itália, Mussolini iniciou uma política externa agressiva, com o objetivo de ampliar seus territórios coloniais, resolver seus problemas econômicos e reafirmar a posição do país na Europa. O Duce era não apenas o chefe de Estado, mas o comandante supremo das Forças Armadas, controlando diretamente os Ministérios da Guerra, Marinha e Aeronáutica.
A política expansionista iniciou-se em outubro de 1935 com a invasão da Etiópia, na África, que caiu sob domínio italiano em maio do ano seguinte. Ainda em 1936, a Itália enviou tropas para combater na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos falangistas comandados pelo general Francisco Franco, aproximando ao mesmo tempo da política de Hitler. Ssim, a 24 de outubro de 1936 foi formalizado o eixo Roma-Berlim, que definiu a linha do expansionismo dos dois países.
Em abril de 1939, Mussolini promoveu a invasão e anexação da Albânia.
O Expansionismo japonês
O Japão também sofreu os efeitos da crise de 1929. Na década de 30 as diferenças socioeconômicas acentuaram-se, destacando o nítido empobrecimento da classe operária. A alternativa para essa situação, foi a continuidade da sua política imperialista, iniciada em fins do século XIX com as invasões da China e da Coréia, fato que manteve a exigência de altos investimentos na estrutura militar.
Se até a década de 30 o Japão foi mais um dos países imperialistas, na década de 30 passou a uma política mais agressiva, chocando-se com os interesses das grandes potências no oriente. Em 1931 invadiu a Mandchúria, em 1933 retirou-se da Liga das Nações e fez da Mandchúria a base para o novo império asiático que pretendia instaurar. Em setembro de 1940 firmou um pacto com a Alemanha e Itália. Assim, em 1940, invadiu a Indochina, colônia francesa, de onde pretendiam retirar borracha, estanho, petróleo e quinino e ao mesmo tempo abrir caminho para uma ocupação mais efetiva no sudeste asiático.
O Expansionismo Alemão
As ações políticas de Hitler combinavam suas necessidades internas e externas. Um dos mais graves problemas da Alemanha era o desemprego. Para atacar este problema, o Führer abriu frentes de trabalho, empregando cerca de 1 milhão de pessoas, em obras de emergência e atividades paramilitares. Em 1935 foi reaberto o alistamento militar, com o intuito de elevar o efetivo militar a 500 mil homens, apesar da proibição do Tratado de Versalhes. Em 1936 iniciou-se a remilitarização da Renânia, na fronteira com a França. Desta maneira saneava-se a situação social interna e ao mesmo tempo desenvolvia-se a política externa, ainda no sentido da preparação do expansionismo. A geração de empregos esteve diretamente associada a militarização e a industrialização do país, destacando-se a indústria bélica. Preparava o avanço da Alemanha sobre os territórios considerados usurpados do país ao final da Primeira Guerra.
Em março de 1938 efetivou-se o Anchluss -- anexação da Áustria pela Alemanha -, utilizando-se o argumento racial, a unidade dos povos germânicos; aproveitando-se ainda da fraqueza do governo austríaco e de sua instabilidade econômica, constantemente agravada desde o final da Primeira Guerra.
O mesmo argumento racial foi utilizado por Hitler para avançar em direção a Tchecoslováquia, país formado após a Primeira Guerra, com o fim do Império Áustro-Húngaro. Nesse novo país, a região dos Sudetos era formada em sua maioria por alemães, que, insuflados por Hitler, passaram a exigir autonomia. A mobilização de tropas tchecas e francesas fez com que se buscasse um acordo diplomático. Realizou-se então a Conferência de Munique (setembro de 1938), que acabou por determinar que os Sudetos deveriam ser entregues a Alemanha. A Tchecoslováquia, isolada, foi obrigada a entregar 20% de seu território.
As potências ocidentais colocavam em prática a "política de apaziguamento" acreditando que dessa maneira conseguiriam frear a expansão do nazismo, através da definição de fronteiras européias e da declaração anglo-alemã e franco-alemã de não agressão.
3ª. Série do EM - Aula 12/09/2011 - Nazismo
A FORMAÇÃO DO NAZISMO NA ALEMANHA
INTRODUÇÃO
A Alemanha tornou-se um país republicano em 1918, com a fundação da República de Weimar. Até então, a história do Império e do período de divisão imposto pelo Congresso de Viena impedira o desenvolvimento das estruturas democráticas.
Desde a fundação do II Reich, em 1871, a Alemanha conheceu um grande processo de desenvolvimento industrial, equiparando-se às grandes potências da época em vários setores da produção. Mas desde logo sofreu uma ruptura profunda no seu interior, entre uma classe formada pela alta nobreza e pela alta burguesia e uma classe trabalhadora que exigia também a participação no poder, o que lhe era veementemente negado.
A rendição militar e a profunda crise financeira abalaram profundamente as estruturas do país, possibilitando uma rápida polarização, que na prática fez com que a República nascesse destinada a morrer. Desde o final da Guerra a preocupação da maioria dos alemães foi encontrar um culpado para a derrota. A elite militar e empresarial, os meios de comunicação, radicalizaram seu discurso autoritário e preconceituoso, no sentido de propagar a idéia de não houve uma derrota militar, mas sim um ato de traição de grande parcela da sociedade, estimulada pelos partidos de esquerda e pelos agentes do capitalismo internacional, os judeus. Acusavam ainda a Paz de Versalhes pela situação de ruína do país, imposta pelas grandes potências e aceita pelos republicanos, apresentados então como os traidores da pátria.
Os conservadores de direita defendiam a reorganização da monarquia e os mais radicais propunham uma ditadura; enquanto que os grupos de esquerda criticavam as reformas republicanas como insuficientes. Desde o início caracterizou-se uma profunda polarização ideológica, com forte efeito sobre os grupos de centro e a maioria da sociedade, situação reforçada pelo constante e rápido agravamento da crise econômica.
ORIGEM DO PARTIDO NACIONAL SOCIALISTA
Desde o final da guerra, com a acentuada polarização entre forças de direita e esquerda, surgiram diversos agrupamentos políticos. Cerca de 70 desses grupos possuíam discurso fascista, culpavam os judeus, democratas, liberais e marxistas pela derrota na guerra.
Em 5 de janeiro de 1919 foi fundado o Partido do Trabalhador Alemão na Baviera, ao qual Hitler se associaria em setembro seguinte, tornando-se seu principal orador. Em 1920 o grupo adotou o nome Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e definiu seu programa político, caracterizado pelo anti-semitismo, extremo nacionalismo e críticas ao capitalismo internacional. De um conjunto de 25 pontos do programa do partido, vários referem-se aos judeus, exigindo que sejam eliminados dos cargos públicos e da imprensa, exigindo uma legislação específica para os mesmos, que seriam comparados a estrangeiros. O discurso radical contra os judeus foi um dos fatores de atração sobre outros partidos de extrema direita e grupos anti-semitas; outro fator foi a capacidade retórica de Hitler e toda a encenação montada para seus discursos, e ainda a incorporação de grupos paramilitares, devido a suas relações privilegiadas com o exército.
No período de 3 anos o partido cresceu de forma significativa chegando a 55 mil filiados, sendo que parte significativa eram quadros da burocracia do governo, militares e elementos da alta burguesia que enxergavam o NSDAP como uma força significativa na luta contra os grupos de esquerda.
O PUTSCH DE MUNIQUE
Inspirado no movimento fascista de Mussolini na Itália, Hitler, em novembro de 1923, organizou um golpe a partir da cidade de Munique, tendo como pano de fundo a grave crise econômica no país, onde em 3 anos os preços dos produtos haviam se multiplicado por 1000. Apesar do fracasso do movimento, projetou o partido e suas idéias em nível nacional. No julgamento realizado em 1 de abril de 24 ficou claro que os juizes simpatizavam com as idéias de Hitler, atestando "um esforço sério" e um "espírito puro e nacional" em seus objetivos. Condenado a 5 anos de prisão, ficou detido por apenas 8 meses. Durante esse período deu início a sua obra "Mein Kampf", definindo sua doutrina. O número de votos do partido diminuiu nas eleições seguintes e Hitler foi proibido de discursar em várias províncias alemãs. No entanto perceberemos que estas conseqüências negativas se expressarão por um curto período. A partir de então o partido considera que é necessário conquistar o poder pela via legal, apesar de não abrir mão do uso da força. A institucionalização do partido foi marcada por sua presença cada vez maior nas associações já existentes na sociedade civil e pelo desenvolvimento do culto à personalidade, tendo a figura do Führer como o centro das atenções. Percebe-se a importância do "líder" na própria organização interna: organiza-se a juventude Hitleriana e não a juventude nazista.
Apesar de toda a propaganda exercida pelo partido, tanto dos conceitos anti-semitas, como da figura do líder, sua votação na década de 20 manteve-se constante. Até 1929, apesar da crise, setores da economia apresentavam sinais de recuperação, fruto dos investimentos de grupos norte-americanos. Essa situação modificou-se completamente após a crise de 29. De setembro de 29 para setembro do ano seguinte o número de desempregados triplicou
OS EFEITOS DA CRISE DE 29
O processo eleitoral de 1930 foi fortemente influenciado pelos efeitos da crise econômica. O Partido Nazista reforçou sua ação propagandística baseada no ataque aos "inimigos do povo alemão", numa referência principalmente aos judeus, ao mesmo tempo em que realizou ações concretas, como a doação de sopa aos pobres e manteve a violência de seu grupo paramilitar contra as associações e partidos de esquerda. Os nazistas procuravam reforçar a imagem de modernidade tecnológica, de decisão e de ativismo jovem.
Ao mesmo tempo as forças democráticas e republicanas entram em crise. Destaca-se cada vez mais a figura de Alfred Hugenberg, o magnata da imprensa alemã, representando a direita conservadora, responsável por forte oposição à república.
Nas eleições para a assembléia Nacional, assim como nas eleições nas províncias, o partido de Hitler amplia sua votação, em detrimento dos partidos políticos de centro. O poder estava nas mãos do marechal Hindenburg, monarquista tradicional que, com uma política dúbia, evita a ascensão de Hitler, mas ao mesmo tempo abre caminho para que os grupos conservadores se consolidem no poder. Essa política fica clara com a nomeação de Franz von Papen como chanceler, que organiza um ministério formado por nobres, sem filiação partidária, porém anti-republicanos. As principais medidas do novo governo permitem perceber sua política: Deposição do governo social democrata liderado por Otto Braun na Prússia, permissão para a reorganização da SA; dissolução do Parlamento e eliminação das convenções coletivas de trabalho.
Em 2 semanas ocorrem duas eleições para o Parlamento e von Papen não consegue maioria. A crise institucional mais uma vez beneficia Hitler e seu discurso antidemocrático. Em 30 de janeiro de 1933 o presidente Hindenburg entrega o poder a Hitler. Na prática essa foi a forma que os mais variados grupos conservadores, representando diversos setores da elite encontraram para preservar seus privilégios, recuperar o poder e instaurar um Estado autoritário. Não só a elite apoiou a ascensão do Führer, grande parcela da sociedade o fez, refletindo as incertezas da situação de miséria que se ampliava no país, como os efeitos da propaganda anti-semita, reforçada desde o final da Primeira Guerra
domingo, 11 de setembro de 2011
Conteúdos para Avaliações Bimestrais - 1ª. e 2ª séries do EM
Conteúdos - História:
1ª. Série
*Estados Nacionais Modernos, Absolutismo e Mercantilismo.
*Expansão Comercial Européia.
*Conquista e Colonização da América.
2ª. Série
* Estado Totalitário: Fascismo e Nazismo
* Segunda Guerra Mundial.
* Guerra Fria
1ª. Série
*Estados Nacionais Modernos, Absolutismo e Mercantilismo.
*Expansão Comercial Européia.
*Conquista e Colonização da América.
2ª. Série
* Estado Totalitário: Fascismo e Nazismo
* Segunda Guerra Mundial.
* Guerra Fria
domingo, 4 de setembro de 2011
3º. Série do Ensino Médio - 05/09/2011 - Crise de 29
A Grande depressão de 1929
INTRODUÇÃO
A crise econômica desencadeada a partir de 1929, quando da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, reflete a crise mais geral do capitalismo liberal e da democracia liberal. No período entre guerras (1919 -- 39), a economia procurou encontrar caminhos para sua recuperação, a partir do liberalismo de Estado, ao mesmo tempo em que consolidava-se o capitalismo monopolista. Mesmo nos EUA, as leis anti-trustes perdiam o efeito e grandes empresas -- industriais e bancárias -- tomavam conta do cenário econômico, protegidas pela política não intervencionista adotada principalmente a partir de 1921.
A PROSPERIDADE AMERICANA
Desde o final do século XIX, a indústria norte americana conheceu um grande crescimento, no quadro da Segunda Revolução Industrial.
Em 1912 foi eleito o presidente Woodrow Wilson, do Partido Democrata, a partir da defesa da Nova Liberdade, que começou a ser aplicada com a criação de leis trabalhistas específicas a algumas categorias profissionais como os marinheiros e de leis que pretendiam eliminar os grandes privilégios de pequenos grupos, através de mecanismos que coibiam o controle de mercado, aperfeiçoando a Lei Anti truste. No entanto o início da Primeira Guerra anulou essa política e a economia passou a ser dominada por Trustes, Holdings e Cartéis.
As transações de produtos industriais e agrícolas se ampliaram com a abertura de créditos aos aliados, seguida da concessão de empréstimos à Inglaterra e França.
A produção norte americana deu um salto gigantesco em vários setores, destacando-se a indústria bélica, de material de campanha, de alimentos e mesmo de setores destinados ao consumo interno, uma vez que o potencial de consumo no país aumentou com a elevação do nível de emprego; ou ainda para a exportação, principalmente para a América Latina, tomando o lugar que tradicionalmente coube à Inglaterra.
O PERÍODO ENTRE GUERRAS
Terminada a Guerra, realizou-se a Conferência de Paris, onde os três grandes tomaram as principais decisões e impuseram os tratados aos países vencidos. No entanto, apesar da participação do presidente Wilson, os EUA não criaram mecanismos que garantissem sua participação nas reparações de guerra ou o pagamento dos empréstimos e das vendas aos países aliados, ao mesmo tempo em que não reivindicaram nenhum território colonial.
O fim da guerra provocou a retração da economia norte americana, pois a industria de guerra diminuía o ritmo de produção, assim como os soldados que voltavam da guerra não eram absorvidos pelo mercado de trabalho, entre 1919 e 21 o país viveu a "Pequena Crise", determinando a derrota dos democratas.
A partir de 1922 a França e a Inglaterra começam o processo de recuperação e passam a saldar suas dívidas com os EUA, porém esse procedimento somente será colocado em prática, na medida em que os alemães pagarem as reparações de guerra. A partir de 1924, os EUA passam a colaborar com a recuperação da economia alemã, fazendo investimentos no país, garantindo assim o pagamento das reparações e consequentemente das dívidas da época da Guerra esse período, após o ano de 1921, até a crise de 29 ficou conhecido como Big Bussines, caracterizado por grande desenvolvimento tecnológico, grande aumento da produção em novas áreas como a automobilística, geração de emprego e elevação do nível de consumo das camadas médias urbanas. Os edifícios tronaram-se os símbolos da prosperidade norte americana. A política econômica adotada pelos republicanos estimulava o desenvolvimento industrial em setores variados, a concentração de capitais ao mesmo tempo em que inibia as importações; essa política caracterizava-se pelo nacionalismo, que do ponto de vista social traduziu-se em preconceito e intolerância.
A CRISE
Alguns componentes são fundamentais para a compreensão da crise:
1) a superprodução que desenvolveu-se durante e mesmo após a Primeira Guerra Mundial, quando o mercado consumidor estava em expansão. Após a guerra e com o início da recuperação do setor produtivo dos países europeus, a produção norte americana entrou em declínio. Essa situação expressou-se principalmente no setor agrícola.
2) A especulação na década de 20 foi um fenômeno que também alimentou a crise, pois como as empresas estavam obtendo altos lucros, suas ações tenderam a crescer, originando sociedades anônimas e empresas responsáveis apenas por gerir e investir dinheiro.
A primeira expressão da crise ocorre no campo, na medida em que as exportações diminuíam, os grandes proprietários não conseguiam saldar as dívidas realizadas no período da euforia, além disso eram forçados a pagar altas taxas para armazenar seus grãos, acumulando dívidas que os levou, em massa, à falência.
A crise no campo refletiu-se nas cidades com o desabastecimento pois o poder de compra diminuía na medida em que a mecanização da indústria passou a gerar maior índice de desemprego; e ao mesmo tempo promoveu a quebra de instituições bancárias, que confiscavam as terras e ao mesmo tempo não recebiam os pagamentos dos industriais que passavam a não vender sua produção
A QUINTA-FEIRA NEGRA
A decadência nas vendas determinou um grande aumento dos estoques e ao mesmo tempo privou os industriais de capital necessário para saldar suas dívidas ou mesmo manter sua atividade. Dessa forma, muitos empresários passaram a vendar suas ações no mercado financeiro, elevando seu valor, como forma de levantar recursos e manter a produção; porém a elevação das ações fez com que milhares de pessoas passassem a vender as ações que, ao não encontrarem compradores despencaram, provocando vertiginosa queda nas cotações, levando bancos e industrias à falência, determinando a queda dos preços dos produtos agrícolas, provocando o desemprego de milhares de pessoas: 3 milhões em abril de 1930, 4 milhões em outubro do mesmo ano, 7 milhões um ano depois, 11 milhões m outubro de 32, de 12 a 14 milhões nos primeiros meses de 1933.
A CRISE MUNDIAL
A crise espalhou-se rapidamente pelo mundo, devido a interdependência do sistema capitalista. Os EUA eram o maior credor dos países europeus e latinos e passaram a exercer forte pressão no sentido de receberem seus pagamentos. Com a quebra industrial, o bastecimento do mercado latino americano foi afetado, provocando a falte de produtos e a elevação de preços, as importações norteamericanoas diminuíam e mais uma vez os países latinos sentiam os efeitos da crise, pois viviam da exportação de gêneros primários ou mesmo supérfluos, como o café no Brasil.
Na medida em que a economia européia se retraía, as áreas coloniais na Ásia e na África eram afetadas, pois aumentava a exploração das potências imperialistas.O único país a não sentir os efeitos da crise foi a URSS, que naquele momento encerrava o primeiro Plano Quinquenal e preparava o segundo, ou seja, desenvolvia uma economia fechada, que não utilizou-se de recursos externos, apesar das grandes dificuldades do país após a Revolução Russa e a Guerra Civil.
domingo, 28 de agosto de 2011
3ª. Série do EM - Textos par aula 29/08/2011 - Primeira Guerra Mundial.
FATORES
Normalmente são apresentados três fatores mais importantes responsáveis pela guerra: A Política Imperialista sobre as áreas de colonização, a Questão Balcânica e o Revanchismo Francês; Mesmo esses dois últimos somente podem ser entendidos no contexto da expansão capitalista, portanto a Primeira Guerra foi na verdade uma guerra imperialista que envolveu os grandes interesses de potências industrializadas
O IMPERIALISMO
O final do século XIX, principalmente após a Conferência de Berlim (1885), foi caracterizado pela corrida armamentista. Nesse período, conhecido por "Paz Armada", várias nações instituíram o serviço militar obrigatório e os exércitos passaram a ter maior influência na vida política. Esse processo deveu-se ao desenvolvimento do capitalismo monopolista e do neocolonialismo, que caracterizam o imperialismo. As grandes potências industriais adotaram a política expansionista para garantir o controle sobre os mercados afro-asiáticos, a partir da concepção de que o desenvolvimento industrial da cada nação somente seria possível na medida em que houvesse o controle sobre grandes mercados.Essa mentalidade imperialista foi responsável não só pelo militarismo, como também por maior exaltação nacionalista.
O NACIONALISMO
O nacionalismo desenvolveu-se desigualmente nos países imperialista, fruto das condições anteriores ao imperialismo. Tradicionalmente considera-se a Alemanha como a maior expressão de nacionalismo, na verdade, muito mais pelos desdobramentos que essa mentalidade teve durante a Segunda guerra, do que pela sua real importância no final do século XIX.
Na Itália o sentimento nacionalista esteve presente nas duas grandes revoluções do século XIX ( em 1830 e 1848) e novamente no processo de unificação.
Na França o nacionalismo esteve presente na Revolução Francesa, manifestado principalmente no ideal de ‘fraternidade"; se bem que a revolução agudizou a luta de classes, enquanto na Alemanha e na Itália, as unificações baseadas no discurso nacionalista cumpriu o papel inverso, encobrir as desigualdades, característica fundamental do nacionalismo.
Mesmo nos EUA, onde não existe o nacionalismo clássico, este encontrou seu equivalente na Teoria do Destino Manifesto, de origem calvinista, que serviu como justificativa ideológica para o expansionismo ao longo do século XIX e para a formação de sua política intervencionista conhecida por "Big Stick".
A QUESTÃO BALCÂNICA
Desde o final do século XIX, com a decadência do Império Turco e o processo de independência dos povos da região balcânica, é que esse território tornou-se alvo de múltiplos interesses. A Áustria pretendia ampliar sua influência sobre a região e iniciar um processo de expansão. A mesma política foi desenvolvida pelos russos, que utilizaram o argumento "pan-eslavista", e haviam ainda os interesses peculiares à própria região, em especial o dos sérvios, que pretendiam construir a "Grande Sérvia".
O REVANCHISMO
O revanchismo francês desenvolveu-se após a humilhação de 1871, quando da proclamação do II Reich Alemão no Palácio de Versalhes. Nas casas e escolas as crianças francesas foram estimuladas a exaltar o patriotismo e a aceitar o sacrifício pelo seu país. Na verdade esse revanchismo ( a palavra tem sentido negativo) não deixa de ser uma manifestação nacionalista ( palavra que normalmente tem sentido positivo) que desenvolveu-se ao mesmo tempo em que as estruturas políticas do país foram se tornando mais liberais, possibilitando maior participação, estimulando o senso crítico e a noção de cidadania, portanto situação contrária vivida pela Alemanha, onde o nacionalismo seguiu a orientação de um estado centralizado e forte.
Textos:link01; link02; link03.
sábado, 20 de agosto de 2011
3ª. Série do EM - Textos par aula 22/08/2011 - Ideologias dos século XIX e Imperialismo/neocolonialismo.
Imperialismo/neocolonialismo- Texto 01; Texto 02
História do Imperialismo e Neocolonialismo
Na segunda metade do século XIX, países europeus como a Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Itália, eram considerados grandes potências industriais. Na América, eram os Estados Unidos quem apresentavam um grande desenvolvimento no campo industrial. Todos estes países exerceram atitudes imperialistas, pois estavam interessados em formar grandes impérios econômicos, levando suas áreas de influência para outros continentes.
Com o objetivo de aumentarem sua margem de lucro e também de conseguirem um custo consideravelmente baixo, estes países se dirigiram à África, Ásia e Oceania, dominando e explorando estes povos. Não muito diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, que utilizou como desculpa a divulgação do cristianismo; o neocolonialismo do século XIX usou o argumento de levar o progresso da ciência e da tecnologia ao mundo.
Na verdade, o que estes países realmente queriam era o reconhecimento industrial internacional, e, para isso, foram em busca de locais onde pudessem encontrar matérias primas e fontes de energia. Os países escolhidos foram colonizados e seus povos desrespeitados. Um exemplo deste desrespeito foi o ponto culminante da dominação neocolonialista, quando países europeus dividiram entre si os territórios africano e asiático, sem sequer levar em conta as diferenças éticas e culturais destes povos.
Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885 foi realizado o Congresso de Berlim. Neste encontro, os países europeus imperalistas organizaram e estabeleceram regras para a exploração da África. Na divisão territorial que fizeram, a cultura e as diferenças étnicas dos povos africanos não foram respeitadas.
Devido ao fato de possuírem os mesmo interesses, os colonizadores lutavam entre si para se sobressaírem comercialmente. O governo dos Estados Unidos, que já colonizava a América Latina, ao perceber a importância de Cuba no mercado mundial, invadiu o território, que, até então, era dominado pela Espanha. Após este confronto, as tropas espanholas tiveram que ceder lugar às tropas norte-americanas. Em 1898, as tropas espanholas foram novamente vencidas pelas norte-americanas, e, desta vez, a Espanha teve que ceder as Filipinas aos Estados Unidos.
Um outro ponto importante a se estudar sobre o neocolonialismo, é à entrada dos ingleses na China, ocorrida após a derrota dos chineses durante a Guerra do Ópio (1840-1842). Esta guerra foi iniciada pelos ingleses após as autoridades chinesas, que já sabiam do mal causado por esta substância, terem queimado uma embarcação inglesa repleta de ópio. Depois de ser derrotada pelas tropas britânicas, a China, foi obrigada a assinar o Tratado de Nanquim, que favorecia os ingleses em todas as clausulas. A dominação britânica foi marcante por sua crueldade e só teve fim no ano de 1949, ano da revolução comunista na China.
Como conclusão, pode-se afirmar que os colonialistas do século XIX, só se interessavam pelo lucro que eles obtinham através do trabalho que os habitantes das colônias prestavam para eles. Eles não se importavam com as condições de trabalho e tampouco se os nativos iriam ou não sobreviver a esta forma de exploração desumana e capitalista. Foi somente no século XX que as colônias conseguiram suas independências, porém herdaram dos europeus uma série de conflitos e países marcados pela exploração, subdesenvolvimento e dificuldades políticas.
Ideologias do século XIX
Texto 01.
Texto 02.
História do Imperialismo e Neocolonialismo
Na segunda metade do século XIX, países europeus como a Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Itália, eram considerados grandes potências industriais. Na América, eram os Estados Unidos quem apresentavam um grande desenvolvimento no campo industrial. Todos estes países exerceram atitudes imperialistas, pois estavam interessados em formar grandes impérios econômicos, levando suas áreas de influência para outros continentes.
Com o objetivo de aumentarem sua margem de lucro e também de conseguirem um custo consideravelmente baixo, estes países se dirigiram à África, Ásia e Oceania, dominando e explorando estes povos. Não muito diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, que utilizou como desculpa a divulgação do cristianismo; o neocolonialismo do século XIX usou o argumento de levar o progresso da ciência e da tecnologia ao mundo.
Na verdade, o que estes países realmente queriam era o reconhecimento industrial internacional, e, para isso, foram em busca de locais onde pudessem encontrar matérias primas e fontes de energia. Os países escolhidos foram colonizados e seus povos desrespeitados. Um exemplo deste desrespeito foi o ponto culminante da dominação neocolonialista, quando países europeus dividiram entre si os territórios africano e asiático, sem sequer levar em conta as diferenças éticas e culturais destes povos.
Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885 foi realizado o Congresso de Berlim. Neste encontro, os países europeus imperalistas organizaram e estabeleceram regras para a exploração da África. Na divisão territorial que fizeram, a cultura e as diferenças étnicas dos povos africanos não foram respeitadas.
Devido ao fato de possuírem os mesmo interesses, os colonizadores lutavam entre si para se sobressaírem comercialmente. O governo dos Estados Unidos, que já colonizava a América Latina, ao perceber a importância de Cuba no mercado mundial, invadiu o território, que, até então, era dominado pela Espanha. Após este confronto, as tropas espanholas tiveram que ceder lugar às tropas norte-americanas. Em 1898, as tropas espanholas foram novamente vencidas pelas norte-americanas, e, desta vez, a Espanha teve que ceder as Filipinas aos Estados Unidos.
Um outro ponto importante a se estudar sobre o neocolonialismo, é à entrada dos ingleses na China, ocorrida após a derrota dos chineses durante a Guerra do Ópio (1840-1842). Esta guerra foi iniciada pelos ingleses após as autoridades chinesas, que já sabiam do mal causado por esta substância, terem queimado uma embarcação inglesa repleta de ópio. Depois de ser derrotada pelas tropas britânicas, a China, foi obrigada a assinar o Tratado de Nanquim, que favorecia os ingleses em todas as clausulas. A dominação britânica foi marcante por sua crueldade e só teve fim no ano de 1949, ano da revolução comunista na China.
Como conclusão, pode-se afirmar que os colonialistas do século XIX, só se interessavam pelo lucro que eles obtinham através do trabalho que os habitantes das colônias prestavam para eles. Eles não se importavam com as condições de trabalho e tampouco se os nativos iriam ou não sobreviver a esta forma de exploração desumana e capitalista. Foi somente no século XX que as colônias conseguiram suas independências, porém herdaram dos europeus uma série de conflitos e países marcados pela exploração, subdesenvolvimento e dificuldades políticas.
Ideologias do século XIX
Texto 01.
Texto 02.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
2ª. Série do Ensino Médio - 17/08/2011 - Leitura e análise dos textos - Segunda Guerra Mundial
01. Os nazistas criaram os campos de concentração?
Os líderes do Terceiro Reich desenvolveram esse sistema de aprisionamento durante a Segunda Guerra Mundial para prender comunistas, judeus, homossexuais e ciganos, certo?
texto 01
02. O GUETO DE VARSÓVIA
Introdução
A teoria anti-semita do nazismo foi esboçada inicialmente no livro “Mein Kampf”, (Minha Luta) que Hitler escreveu enquanto esteve no presídio militar de Landsberg, por força de sentença do Tribunal de Munique, uma vez que liderara o levante conhecido como PUTSCH DE MUNIQUE. Condenado a 5 anos de prisão, ficou detido por apenas 8 meses.
Toda a década de 20 do século XX foi caracterizada por grave crise na Alemanha, em parte devido as imposições do pós Primeira Guerra, que se ampliaram após a crise 1929. Apesar de variações na dimensão da crise, considera-se que ela foi responsável pela “polarização ideológica”, quando percebemos a organização e o crescimento do movimento fascista e, na Alemanha, do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores (Nazista) liderado por Hitler.
O Partido nazista chegou efetivamente ao poder em janeiro de 1933. Desde então configurou-se uma ditadura no país e, do ponto de vista social, a perseguição em larga escala aos judeus; não havia instância policial ou estatal capaz de conter os distúrbios e agressões das SA, as temidas milícias paramilitares do Partido Nacional-Socialista ( o nome original, Sturmabteilung, significaria Divisão de Assalto).
Rapidamente os judeus foram despojados de seus direitos individuais e civis, proibidos de exercer determinadas profissões, limitados em seu direito de ir e vir, expulsos de universidades, agredidos, obrigados a entregar ou vender empresas e propriedades. Quem podia, tentava fugir para o exterior para escapar das perseguições.
Texto 02
terça-feira, 9 de agosto de 2011
1ª. Série do Ensino Médio - Link para download do livro "O Príncipe" de Maquiavel.
Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções , porém , o maquiavelismo está associado a idéia de perfídia , a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma incólumes no tempo e no espaço, apenas alastrando-se da luta política para as desavenças do cotidiano."
CLIQUE AQUI PARA BAIXAR
domingo, 7 de agosto de 2011
2º. Série EM - Guerra Civil e Fascismo Espanhol - 08/08/2011
* Atividades: páginas 9 a 11.
* Texto complementar: link
Lembrete: 10/08 - Prova Mensal 01
Conteúdo: Fascismo, Nazismo e Guerra Civil espanhola.
* Texto complementar: link
Lembrete: 10/08 - Prova Mensal 01
Conteúdo: Fascismo, Nazismo e Guerra Civil espanhola.
sábado, 6 de agosto de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
CONTEÚDOS DA RECUPERAÇÃO SEMESTRAL - HISTÓRIA EM
Conteúdo:
1ª.Série
* Primeiras civilizações;
* Civilização Grega;
* Civilização Romana;
* Civilização Bizantina;
* Civilização Árabe;
* Transição da Antiguidade à Idade Média;
* Baixa Idade Média.
2ª. Série
* Revolução Industrial;
* Ideologias do século XIX;
* Crise do Sistema Colonial;
* A América após a emancipação política;
* Imperialismo;
* Primeira Guerra Mundial;
* Revolução Russa;
* Mundo entre guerras - Crise de 29.
3ª. Série
* Civilização Grega;
* Civilização Romana;
* Idade Média;
* Renascimento;
* Absolutismo;
* Colonização espanhola e inglesa;
* Revolução Inglesa.
domingo, 3 de julho de 2011
Atenção Galerianha Batuta do Ensino Médio CEAPE (1ª e 3ª séries)
*Amanhã (04/07) revisão para a avaliação bimestral.
domingo, 26 de junho de 2011
Aula 27/06/2011
1ª.Série EM
* Cruzadas e Renascimento Comercial e urbano;
* Atividade avaliativa em sala de aula.
2ª. Série EM
* Crise de 29 - NEW DEAL;
* O Brasil e a crise;
* Revisando - página 30/21.
3ª. Série EM
* Revolução Francesa;
* Atividade avaliativa em sala de aula;
* Prazo final para entrega das questões - Colonização espanhola na América.
* Cruzadas e Renascimento Comercial e urbano;
* Atividade avaliativa em sala de aula.
2ª. Série EM
* Crise de 29 - NEW DEAL;
* O Brasil e a crise;
* Revisando - página 30/21.
3ª. Série EM
* Revolução Francesa;
* Atividade avaliativa em sala de aula;
* Prazo final para entrega das questões - Colonização espanhola na América.
sábado, 25 de junho de 2011
Dicas para o ENEM - O pensamento atual de Eric Hobsbawm
New Left Review- 18/04/2010
(Reproduzido a partir do site História em projetos)
Aos 92 anos, o historiador britânico Eric Hobsbawm continua um feroz crítico da prevalência do modelo político-econômico dos EUA. Para ele, o presidente americano Barack Obama, ao lidar com as consequências da crise econômica, desperdiçou a chance de construir maneiras mais eficazes de superá-la.
"Podemos desejar sucesso a Obama, mas acho que as perspectivas não são tremendamente encorajadoras", diz, na entrevista abaixo. "A tentativa dos EUA de exercer a hegemonia global vem fracassando de modo muito visível."
Hobsbawm discute ainda questões globais contemporâneas --como as tentativas de criar Estados supranacionais, a xenofobia e o crescimento econômico chinês-- à luz do que expressou em livros como "Era dos Extremos" e "Tempos Interessantes" (ambos publicados pela Cia. das Letras).
*
Pergunta - "Era dos Extremos" termina em 1991, com um panorama de avalanche global --o colapso das esperanças de avanços sociais globais da era de ouro [segundo Hobsbawm, 1949-73]. Quais são as mudanças mais importantes desde então na história mundial?
Eric Hobsbawm - Vejo quatro mudanças principais. Primeiro, o deslocamento do centro econômico do mundo do Atlântico Norte para o sul e o leste da Ásia. Isso já estava começando no Japão nas décadas de 1970 e 80, mas a ascensão da China desde os anos 1990 vem fazendo uma diferença real.
Em segundo lugar, é claro, a crise mundial do capitalismo, que vínhamos prevendo, mas que, mesmo assim, levou muito tempo para ocorrer. Em terceiro, a derrota retumbante da tentativa dos EUA de exercer a hegemonia global solo a partir de 2001 --e essa tentativa vem fracassando de modo muito visível.
Em quarto lugar, a emergência de um novo bloco de países em desenvolvimento, como entidade política --os Brics [Brasil, Rússia, Índia e China]--, não tinha acontecido quando escrevi "Era dos Extremos". E, em quinto lugar, a erosão e o enfraquecimento sistemático da autoridade dos Estados: dos Estados nacionais no interior de seus territórios e, em grandes regiões do mundo, de qualquer tipo de autoridade de Estado efetiva. Isso pode ter sido previsível, mas se acelerou em um grau que eu não teria previsto.
Pergunta - O que mais o surpreendeu desde então?
Hobsbawm - Nunca deixo de me espantar com a pura e simples insensatez do projeto neoconservador, que não apenas fez de conta que a América fosse o futuro, mas chegou a pensar que tivesse formulado uma estratégia e uma tática para alcançar esse objetivo. Pelo que consigo enxergar, eles não tinham uma estratégia coerente, em termos racionais.
Em segundo lugar --fato muito menor, mas significativo--, o ressurgimento da pirataria, algo que já tínhamos em grande medida esquecido; isso é novo. E a terceira coisa, que é ainda mais local: a derrocada do Partido Comunista da Índia (Marxista) em Bengala Ocidental [no leste da Índia], algo que eu realmente não teria previsto.
Prakash Karat, seu secretário-geral, disse-me recentemente que o partido se sentiu sitiado e assediado em Bengala Ocidental. E está prevendo sair-se muito mal diante deste novo Congresso nas eleições locais. Isso depois de governar por 30 anos como partido nacional, por assim dizer.
Pergunta - O sr. visualiza qualquer recomposição política do que foi no passado a classe trabalhadora?
Hobsbawm - Não em sua forma tradicional. Marx [1818-83] acertou, sem dúvida, quando previu a formação de grandes partidos de classe em determinado estágio da industrialização. Mas esses partidos, quando foram bem-sucedidos, não operaram puramente como partidos da classe trabalhadora: se queriam estender-se para além de uma classe estreita, o faziam como partidos do povo, estruturados em torno de uma organização inventada pela classe trabalhadora e voltada a alcançar os objetivos dela.
Mesmo assim, havia limites à consciência de classe. No Reino Unido, o Partido Trabalhista nunca conquistou mais de 50% dos votos. O mesmo se aplica à Itália, onde o Partido Comunista era muito mais um partido do povo. Na França, a esquerda era baseada sobre uma classe trabalhadora relativamente fraca, mas que conseguiu se reforçar como sucessora essencial da tradição revolucionária.
O declínio da classe operária manual na indústria parece, de fato, ter atingido seu estágio terminal. Ainda restam ou vão restar muitas pessoas fazendo trabalhos manuais, e a defesa das condições de trabalho delas continua a ser uma tarefa importante de todos os governos de esquerda. Mas essa defesa não pode mais ser o alicerce principal das esperanças dessas pessoas: elas não possuem mais potencial político, nem mesmo teoricamente, porque não possuem o potencial de organização da classe operária antiga.
Houve três outras mudanças negativas importantes. Uma delas, é claro, é a xenofobia --que, para a maior parte da classe trabalhadora é, nas palavras usadas certa vez por [August] Bebel, "o socialismo dos tolos": proteja meu emprego contra pessoas que estão competindo comigo.
Em segundo lugar, boa parte da mão de obra e do trabalho nos setores que a administração pública britânica qualificava no passado como "graus menores e manipulativos" não é permanente, mas temporária: são estudantes e migrantes trabalhando com catering [fornecimento de refeições para linhas aéreas, gastronomia hospitalar e cozinhas de navios], por exemplo. Assim, não é fácil enxergá-la como tendo potencial de ser organizada.
A única parte facilmente organizável desse tipo de mão de obra é a que é empregada por autoridades públicas, e isso devido ao fato de essas autoridades serem politicamente vulneráveis.
A terceira e mais importante mudança é, a meu ver, a divisão crescente gerada por um novo critério de classe: a saber, a aprovação em exames de escolas e universidades como critério de acesso a empregos. Pode-se dizer que se trata de uma meritocracia, mas ela é medida, institucionalizada e mediada por sistemas de ensino.
O que isso fez foi desviar a consciência de classe da oposição aos patrões para a oposição a representantes de alguma elite: intelectuais, elites liberais, pessoas que se erguem como superiores a nós.
Podem existir meios novos? Não podem mais ser em termos de uma classe única, mas, na minha opinião, isso nunca foi possível. Existe uma política progressista de coalizões, mesmo coalizões relativamente permanentes como as que unem, digamos, a classe média instruída, leitora do "The Guardian", e os intelectuais --os altamente instruídos, que de modo geral tendem a posicionar-se muito mais à esquerda que outros-- e a massa dos pobres e ignorantes.
Os dois grupos são essenciais para um movimento como esse, mas hoje talvez seja mais difícil uni-los do que era antes. É possível, em certo sentido, os pobres se identificarem com os multimilionários, como acontece nos EUA, dizendo "eu só precisaria de sorte para virar popstar". Mas não é possível dizer "bastaria um pouco de sorte para eu virar ganhador do Prêmio Nobel". Isso cria um problema real quando se trata de coordenar as posições políticas de pessoas que, objetivamente falando, poderiam estar do mesmo lado.
Pergunta - Que comparações o sr. traçaria entre a crise atual e a Grande Depressão?
Hobsbawm -[A crise de] 1929 não começou com os bancos --eles só caíram dois anos mais tarde. O que aconteceu, na verdade, foi que a Bolsa de Valores [de Nova York] desencadeou uma queda na produção, com um índice muito mais alto de desemprego e um declínio real muito maior na produção do que havia ocorrido em qualquer momento até então.
A depressão atual levou mais tempo sendo preparada que a de 1929, que pegou quase todos de surpresa. Deveria ter sido claro desde cedo que o fundamentalismo neoliberal gerou uma instabilidade enorme nas operações do capitalismo. Até 2008, isso pareceu afetar apenas as áreas periféricas --a América Latina nos anos 1990 e no início da década de 2000, o Sudeste Asiático e a Rússia.
Parece-me que o verdadeiro indício de algo grave acontecendo deveria ter sido o colapso da Long-Term Capital Management [fundo de investimentos sediado nos EUA], em 1998, que provou como estava errado o modelo inteiro de crescimento. Mas o incidente não foi visto como tal. Paradoxalmente, a crise levou vários empresários e jornalistas a redescobrirem Karl Marx como alguém que tinha escrito algo interessante sobre uma economia globalizada moderna. Não teve absolutamente nada a ver com a antiga esquerda.
A economia mundial em 1929 era menos global do que é hoje. Isso exerceu algum efeito, é claro --por exemplo, teria sido muito mais fácil então para as pessoas que perderam seus empregos retornarem a suas cidadezinhas de origem.
A existência da União Soviética não exerceu efeito concreto sobre a Depressão, mas seu efeito ideológico foi enorme: significava que havia uma alternativa. Desde os anos 1990, temos assistido à ascensão da China e das economias emergentes, fato que vem realmente exercendo um efeito concreto sobre a depressão atual, na medida em que esses países vêm ajudando a manter a economia mundial muito mais equilibrada do que ela estaria sem eles.
Na verdade, mesmo na época em que o neoliberalismo estava supostamente em plena forma, o crescimento real estava ocorrendo em muito grande medida nessas economias em desenvolvimento recente --particularmente na China. Tenho certeza de que, não fosse pela China, a queda de 2008 teria sido muito mais séria.
Pergunta - E o que dizer das consequências políticas?
Hobsbawm - A Depressão de 1929 levou a um desvio avassalador para a direita, com a exceção notável da América do Norte, incluindo o México, e da Escandinávia. Na França, a Frente Popular teve apenas 0,5% mais votos em 1936 do que tinha em 1932, de modo que sua vitória assinalou uma mudança na composição das alianças políticas, e não alguma coisa mais profunda. Na Espanha, apesar da situação quase ou potencialmente revolucionária, o efeito imediato e, de fato, também o efeito de longo prazo foi um desvio para a direita.
Na maioria dos outros países, especialmente na Europa central e do leste, a política se desviou para a direita de modo muito acentuado.
O efeito da crise atual não é tão nítido. Podemos imaginar que grandes mudanças políticas devem ocorrer não apenas nos EUA ou no Ocidente, mas quase certamente na China. Mas podemos apenas especular sobre quais serão essas mudanças.
Pergunta - O sr. antevê que a China continue a resistir ao declínio?
Hobsbawm - Não há nenhuma razão em especial para prever que a China pare de crescer de uma hora para outra. A depressão causou um choque grave ao governo chinês, na medida em que paralisou muitas indústrias, temporariamente. Mas o país ainda se encontra nos estágios iniciais do desenvolvimento econômico, e há espaço enorme para expansão.
Não quero tecer especulações sobre o futuro, mas podemos imaginar que, dentro de 20 ou 30 anos, a importância relativa da China no palco mundial será maior do que é hoje --pelo menos econômica e politicamente, mas não necessariamente em termos militares. É claro que o país ainda enfrenta problemas enormes; sempre há pessoas que se perguntam se a China vai conseguir continuar unida. Mas acho que as razões reais e ideológicas para que as pessoas desejem que a China se mantenha unida continuam muito fortes.
Pergunta - Que avaliação o sr. faz da administração [do presidente dos EUA, Barack] Obama?
Hobsbawm - As pessoas ficaram tão satisfeitas com a eleição de um homem como ele, especialmente em um momento de crise, que pensaram que certamente seria um grande reformador, que faria o que Roosevelt [presidente dos EUA, 1933-45, responsável pelo New Deal, série de programas econômicos e sociais contra a Grande Depressão] fez.
Mas Obama não o fez. Ele começou mal. Se compararmos os primeiros cem dias de Roosevelt com os primeiros cem dias de Obama, o que salta à vista é a disposição de Roosevelt em aceitar assessores não oficiais, em experimentar algo novo, comparada à insistência de Obama em se conservar no centro. Acho que ele desperdiçou sua chance.
Podemos desejar sucesso a Obama, mas acho que as perspectivas não são tremendamente encorajadoras.
Pergunta - Voltando-nos ao teatro mais explosivo de conflito internacional no mundo no presente, o sr. pensa que a solução de dois Estados, conforme visualizada no momento, é uma perspectiva digna de crédito para a Palestina?
Hobsbawm - Pessoalmente, duvido que ela exista neste momento. Seja qual for a solução possível, nada vai acontecer enquanto os americanos não decidirem mudar totalmente de posição e aplicar pressão sobre Israel.
Pergunta - Existem lugares do mundo nos quais o sr. acha que projetos positivos e progressistas ainda estejam vivos ou tenham chances de ser reativados?
Hobsbawm - Na América Latina, com certeza, a política e o discurso público geral ainda são conduzidos nos velhos termos do iluminismo --liberais, socialistas, comunistas. Esses são os lugares onde se encontram militaristas que falam como socialistas --que são socialistas. Encontram-se fenômenos como [o presidente] Lula, baseado em um movimento da classe trabalhadora, e [o presidente boliviano Evo] Morales.
Para onde isso vai levar é outra questão, mas a velha linguagem ainda pode ser falada, e os velhos modos políticos ainda estão disponíveis. Não estou inteiramente certo quanto à América Central, embora existam indícios de um ligeiro "revival" da tradição da revolução no próprio México --não que isso vá muito longe, na medida em que o México já foi virtualmente integrado à economia americana.
Acho que a América Latina se beneficiou da ausência de nacionalismo étnico-linguístico e de divisões religiosas, e isso fez com que fosse muito mais fácil conservar o discurso antigo. Sempre chamou minha atenção o fato de que, até muito recentemente, não se viam sinais de política étnica. Esta apareceu entre movimentos indígenas no México e no Peru, mas não em escala remotamente comparável ao que se viu na Europa, na Ásia ou na África.
É possível que projetos progressistas possam renascer na Índia, devido à força institucional da tradição secular de Nehru [que se tornou premiê da Índia após a independência do país, em 1947]. Mas isso não parece penetrar muito entre as massas, com a exceção de algumas regiões em que os comunistas têm tido ou tiveram apoio de massa, como em Bengala e Kerala, e possivelmente alguns grupos como os naxalitas ou os maoístas no Nepal.
Além disso, o legado dos velhos movimentos trabalhistas, socialistas e comunistas na Europa continua bastante forte. Os partidos fundados sob [a influência de Friedrich] Engels ainda são, em quase toda parte na Europa, potenciais partidos governistas ou os principais partidos de oposição. Desconfio que em algum momento a herança do comunismo, por exemplo nos Bálcãs ou até mesmo em parte da Rússia, possa se manifestar de maneiras que não podemos prever.
O que vai acontecer na China eu não sei. Mas não há dúvida de que eles estão pensando em termos diferentes, não em termos maoístas ou marxistas modificados.
Pergunta - O sr. sempre foi crítico do nacionalismo como força política, avisando à esquerda que não deve pintá-lo de vermelho. Mas também se manifestou de modo contundente contra violações de soberania nacional cometidas em nome de intervenções humanitárias. Após a falência dos tipos de internacionalismo nascidos do movimento trabalhista, que tipos são desejáveis hoje?
Hobsbawm - Em primeiro lugar, o humanitarismo, o imperialismo dos direitos humanos, não tem muito a ver com internacionalismo. É indicativo ou de um imperialismo renascido, que encontra nele uma desculpa adequada para cometer violações de soberania de Estados --podem ser desculpas absolutamente sinceras--, ou então, o que é mais perigoso, é uma reafirmação da crença na superioridade permanente da região que dominou o planeta do século 16 até o final do século 20.
Afinal, os valores que o Ocidente procura impor são valores especificamente regionais, não necessariamente universais. Se fossem valores universais, teriam que ser reformulados em termos diferentes. Não creio que estejamos lidando aqui com algo que seja nacional ou internacional em si.
Mas o nacionalismo exerce um papel nisso, sim, porque a ordem nacional baseada em Estados-nações --o sistema westfaliano-- tem sido no passado, para o bem ou para o mal, uma das melhores proteções contra a chegada de elementos externos a países. Não há dúvidas de que, uma vez que ela é abolida, o caminho fica aberto para guerras agressivas e expansionistas --de fato, é por essa razão que os EUA têm criticado a ordem westfaliana.
O internacionalismo, que é a alternativa ao nacionalismo, é uma coisa espinhosa. Ou é um slogan politicamente vazio, como foi, concretamente falando, no movimento trabalhista internacional --não queria dizer nada específico--, ou é uma maneira de assegurar uniformidade para organizações centralizadas e poderosas como a Igreja Católica ou a Internacional Comunista.
O internacionalismo significava que, como católico, você acreditava nos mesmos dogmas e participava das mesmas práticas, não importa quem você fosse ou onde vivesse. O mesmo acontecia, teoricamente, com os partidos comunistas. Em que medida isso realmente aconteceu, e em que estágio deixou de acontecer --mesmo dentro da Igreja Católica--, é outra questão. Não é realmente isso o que queríamos dizer com "internacionalismo".
O Estado-nação foi e continua a ser o quadro em que são tomadas todas as decisões políticas, domésticas e externas. Até muito recentemente, as atividades dos partidos trabalhistas --na verdade, todas as atividades políticas-- eram conduzidas quase inteiramente dentro do contexto de um Estado.
Mesmo dentro da UE [União Europeia], a política ainda é articulada em termos nacionais. Em outras palavras, não existe um poder de ação supranacional --apenas Estados separados formando uma coalizão.
É possível que o islã missionário e fundamentalista constitua uma exceção a essa regra, abarcando Estados, mas isso ainda não foi demonstrado concretamente. As tentativas anteriores de criação de Superestados pan-árabes, como a tentativa entre Egito e Síria, fracassaram precisamente devido à persistência das fronteiras existentes --antes coloniais-- dos Estados.
Pergunta - Então o sr. vê obstáculos inerentes a quaisquer tentativas de extrapolar as fronteiras do Estado-nação?
Hobsbawm - Economicamente e na maioria dos outros aspectos --inclusive culturalmente, até certo ponto--, a revolução das comunicações criou um mundo genuinamente internacional, no qual há poderes de decisão que se transnacionalizam, atividades que são transnacionais e, é claro, movimentos de ideias, comunicações e pessoas que são mais facilmente transnacionais do que jamais antes.
Mesmo as culturas linguísticas hoje são suplementadas por expressões idiomáticas das comunicações internacionais. Na política, contudo, não se vê nenhum sinal de que isso esteja acontecendo, e é essa a contradição básica no momento.
Uma das razões pelas quais não vem acontecendo é que, no século 20, a política foi democratizada em grau muito grande --a massa da população comum se envolveu nela. Para essa massa, o Estado é essencial para suas operações cotidianas normais e para suas possibilidades de vida.
Tentativas de fragmentar o Estado internamente, pela descentralização, foram empreendidas, em sua maioria nos últimos 30 ou 40 anos, e algumas delas não deixaram de ter algum sucesso --na Alemanha, com certeza, a descentralização vem tendo alguma medida de sucesso, e na Itália a regionalização vem sendo benéfica.
Mas as tentativas de criar Estados supranacionais não têm funcionado. A UE é o exemplo mais óbvio disso. Ela foi prejudicada, até certo ponto, pelo fato de seus fundadores terem pensado precisamente em termos de um Superestado análogo a um Estado nacional, apenas maior --sendo que essa não era uma possibilidade, creio, e hoje com certeza não é. A UE é uma reação específica no interior da Europa.
Em um ou outro momento se viram sinais de um Estado supranacional no Oriente Médio e em outros lugares, mas a UE é o único que parece ter ido adiante. Não acredito, por exemplo, que exista muita chance de uma federação maior surgir na América do Sul. Pessoalmente, eu apostaria contra essa possibilidade.
Logo, o problema ainda não resolvido continua a ser a seguinte contradição: por um lado, há entidades e práticas transnacionais que estão em processo de esvaziar o Estado, talvez ao ponto de levá-lo ao colapso. Mas, se isso acontecer --coisa que não é uma perspectiva imediata, não em Estados desenvolvidos--, quem se encarregará da função redistributiva e de outras funções até agora empreendidas unicamente pelo Estado?
No momento, temos uma espécie de simbiose e conflito. Esse é um dos problemas básicos de qualquer tipo de política popular hoje.
Pergunta - O nacionalismo claramente foi uma das grandes forças motrizes da política no século 19 e boa parte do século 20. O que o sr. diz da situação atual?
Hobsbawm - Não há dúvida alguma de que o nacionalismo foi, em grande medida, parte do processo de formação dos Estados modernos, que exigiu uma forma de legitimação diferente da do Estado tradicional teocrático ou dinástico. A ideia original do nacionalismo era a criação de Estados maiores, e me parece que essa função unificadora e de expansão foi muito importante.
Um exemplo típico foi o da Revolução Francesa, na qual, em 1790, pessoas apareceram dizendo: "Não somos mais delfineses ou sulistas --somos todos franceses".
Em uma etapa posterior, dos anos 1870 em diante, vemos movimentos de grupos no interior desses Estados impulsionando a criação de seus Estados independentes. Isso, é claro, gerou o momento wilsoniano de autodeterminação --se bem que, felizmente, em 1918-19, ele ainda fosse corrigido, até certo ponto, por algo que desde então desapareceu por completo, a saber, a proteção das minorias.
Era reconhecido, mesmo que não pelos próprios nacionalistas, que nenhum desses novos Estados-nações era, de fato, étnica ou linguisticamente homogêneo. Mas, depois da Segunda Guerra [1939-45], os pontos fracos das situações existentes foram enfrentados, não apenas pelos vermelhos, mas por todos, pela criação proposital e forçada da homogeneidade étnica. Isso provocou uma quantidade enorme de sofrimento e crueldade, e, no longo prazo, também não funcionou.
Apesar disso, até aquele período, o tipo separatista de nacionalismo operou razoavelmente bem. Ele foi reforçado após a Segunda Guerra Mundial pela descolonização, que, por sua própria natureza, havia criado mais Estados; e foi fortalecido ainda mais, no final do século, pela queda do império soviético [em 1991], que também criou novos Miniestados separados, incluindo muitos que, assim como aconteceu com as colônias, não tinham desejado de fato separar-se, mas aos quais a independência foi imposta pela força da história.
Não posso deixar de pensar que a função dos Estados separatistas pequenos, que se multiplicaram tremendamente desde 1945, mudou. Para começo de conversa, eles são reconhecidos como existentes. Antes da Segunda Guerra, os Miniestados --como Andorra, Luxemburgo e todos os outros-- nem sequer eram vistos como parte do sistema internacional, exceto pelos colecionadores de selos.
A ideia de que tudo, até a Cidade do Vaticano, hoje é um Estado, potencialmente membro das Nações Unidas, é nova. Está muito claro, também, que, em termos de poder, esses Estados não são capazes de exercer o papel de Estados tradicionais --não possuem a capacidade de travar guerra contra outros Estados.
Tornaram-se, na melhor das hipóteses, paraísos fiscais ou bases subalternas úteis para as instâncias decisórias transnacionais. A Islândia é um bom exemplo disso, e a Escócia não fica muito atrás.
A função histórica de criar uma nação como Estado-nação deixou de ser a base do nacionalismo. Pode-se dizer que não é mais um slogan muito convincente. Pode ter sido eficaz, no passado, como meio de criar comunidades e organizá-las contra outras unidades políticas ou econômicas.
Hoje, porém, o fator xenofóbico do nacionalismo é cada vez mais importante. Quanto mais a política foi democratizada, maior foi o potencial para isso. As causas da xenofobia são muito maiores do que eram no passado. Trata-se de algo muito mais cultural que político --basta pensar na ascensão do nacionalismo inglês ou escocês nos últimos anos--, mas nem por isso menos perigoso.
Pergunta - O fascismo não incluía essas formas de xenofobia?
Hobsbawm - O fascismo ainda foi, até certo ponto, parte da investida para criar nações maiores. Não há dúvida de que o fascismo italiano foi um grande passo à frente na conversão de calabreses e úmbrios em italianos; e mesmo na Alemanha, foi apenas em 1934 que os alemães puderam ser definidos como alemães, e não alemães pelo fato de serem suábios, francos ou saxões.
É verdade que os fascismos alemão e europeu central e oriental foram acirradamente contrários a outsiders --judeus, em grande medida, mas não apenas eles. E, é claro, o fascismo forneceu uma garantia menor contra os instintos xenofóbicos.
Uma das vantagens enormes dos movimentos trabalhistas antigos era que eles forneciam essa garantia. Isso ficou muito claro na África do Sul: não fosse pelo compromisso das organizações de esquerda tradicionais com a igualdade e a não discriminação, teria sido muito mais difícil resistir à tentação de cometer atos de vingança contra os africânderes.
Pergunta - O sr. destacou as dinâmicas separatistas e xenofóbicas do nacionalismo. O sr. vê isso como algo que hoje atua nas margens da política mundial, e não no teatro principal dos acontecimentos?
Hobsbawm - Sim, acho que isso é provavelmente certo --embora existam regiões em que o nacionalismo causou danos enormes, como no sudeste da Europa. Ainda é verdade, é evidente, que o nacionalismo --ou o patriotismo, ou a identificação com um povo específico, que não precisa necessariamente ser definido por critérios étnicos-- seja um enorme fator de legitimação dos governos.
Isso é claramente o caso na China. Um dos problemas da Índia, hoje, é que não existe nada exatamente assim por lá. Os EUA, obviamente, não podem ser definidos por uma unidade étnica, mas certamente têm sentimentos nacionalistas fortes.
Pergunta - Como o sr. prevê a dinâmica social da imigração contemporânea hoje, num momento em que tantos migrantes chegam anualmente à UE e aos EUA? O sr. prevê a emergência gradual de outro caldeirão cultural na Europa, não dessemelhante ao americano?
Hobsbawm - Mas o caldeirão cultural nos EUA deixou de sê-lo desde os anos 1960. Ademais, no final do século 20, a migração já era algo realmente muito diferente das migrações de períodos anteriores, em grande medida porque, ao emigrar, as pessoas já não rompem os vínculos com o passado no mesmo grau em que o faziam antes.
É possível continuar vivendo em dois, possivelmente até três, mundos ao mesmo tempo, e a identificar-se com dois ou três lugares distintos. É possível continuar a ser guatemalteco mesmo vivendo nos EUA. Também há situações como as da UE, nas quais, concretamente, a imigração não gera a possibilidade de assimilação. Um polonês que vem para o Reino Unido não é visto como nada além de um polonês que vem trabalhar no país.
Isso é claramente novo e muito diferente da experiência de pessoas da minha geração, por exemplo --a geração dos emigrados políticos, não que eu tenha sido um--, na qual nossa família era britânica, mas culturalmente nunca deixávamos de ser austríacos ou alemães; mas, apesar disso, acreditávamos realmente que deveríamos ser ingleses.
Mesmo quando um desses emigrados retornasse a seu próprio país, mais tarde, não era exatamente a mesma coisa --o centro de gravidade tinha se deslocado. Sempre há exceções: o poeta Erich Fried [1921-88], que viveu em Willesden (zona noroeste de Londres) por 50 anos, continuou, de fato, a viver na Alemanha.
Acredito realmente que é essencial conservar as regras básicas da assimilação --que os cidadãos de um país particular devem comportar-se de determinada maneira e gozar de determinados direitos, e que esses comportamentos e direitos devem defini-los, e que isso não deve ser enfraquecido por argumentos multiculturais.
A França havia, apesar de tudo, integrado mais ou menos tantos de seus imigrantes estrangeiros quanto os EUA, relativamente falando, e, mesmo assim, o relacionamento entre os locais e os ex-imigrantes é quase certamente melhor lá. Isso acontece porque os valores da República Francesa continuam a ser essencialmente igualitários e não fazem nenhuma concessão pública real.
Seja o que for que você faça no âmbito pessoal --era também esse o caso nos EUA no século 19--, publicamente esse é um país que fala francês. A dificuldade real não será tanto com os imigrantes quanto com os locais. É em lugares como Itália e Escandinávia, que não tinham tradições xenofóbicas prévias, que a nova imigração vem criando problemas sérios.
Pergunta - Hoje é amplamente disseminada a ideia de que a religião tenha retornado como força imensamente poderosa em um continente após o outro. O sr. vê isso como um fenômeno fundamental ou como fenômeno mais passageiro?
Hobsbawm - Está claro que a religião --entendida como a ritualização da vida, a crença em espíritos ou entidades não materiais que influenciariam a vida e, o que não é menos importante, como um elo comum entre comunidades-- está tão amplamente presente ao longo da história que seria um equívoco enxergá-la como fenômeno superficial ou que esteja destinado a desaparecer, pelo menos entre os pobres e fracos, que provavelmente sentem mais necessidade de seu consolo e também de suas potenciais explicações do porquê de as coisas serem como são.
Existem sistemas de governo, como o chinês, que não possuem concretamente qualquer coisa que corresponda ao que nós consideraríamos ser religião. Eles demonstram que isso é possível, mas acho que um dos erros do movimento socialista e comunista tradicional foi optar pela extirpação violenta da religião em épocas em que poderia ter sido melhor não fazê-lo. Uma das grandes transformações interessantes advindas após a queda de Mussolini na Itália foi quando [Palmiro] Togliatti [secretário-geral do Partido Comunista Italiano] deixou de discriminar os católicos praticantes --e com razão.
De outro modo, ele não teria conseguido que 14% das donas de casa votassem nos comunistas na década de 1940. Isso mudou o caráter do Partido Comunista Italiano, que passou de partido leninista de vanguarda a partido classista de massas ou partido do povo.
Por outro lado, é verdade que a religião deixou de ser a linguagem universal do discurso público; e, nessa medida, a secularização vem sendo um fenômeno global, embora apenas em algumas partes do mundo ela tenha enfraquecido gravemente a religião organizada.
Para as pessoas que continuam a ser religiosas, o fato de hoje existirem duas linguagens do discurso religioso gera uma espécie de esquizofrenia, algo que pode ser visto com bastante frequência entre, por exemplo, os judeus fundamentalistas na Cisjordânia --eles acreditam em algo que é evidentemente tolice, mas trabalham como especialistas nisso.
O movimento islâmico atual é composto, em grande medida, por jovens tecnólogos e técnicos desse tipo. Com certeza, as práticas religiosas vão mudar muito substancialmente. Se isso vai realmente produzir uma secularização maior não está claro. Por exemplo, não sei até que ponto a grande mudança na religião católica no Ocidente --ou seja, a recusa das mulheres em pautar-se pelas normas sexuais-- realmente levou as mulheres católicas a serem menos crentes.
O declínio das ideologias do iluminismo deixou um espaço político muito maior para a política religiosa e as versões religiosas de nacionalismo. Mas não creio que todas as religiões tenham vivido uma ascensão grande. Muitas delas estão claramente em declínio.
O catolicismo está lutando arduamente, mesmo na América Latina, contra a ascensão de seitas evangélicas protestantes, e tenho certeza de que está se mantendo na África apenas graças a concessões aos hábitos e costumes sociais que eu duvido que tivessem sido feitas no século 19.
As seitas evangélicas protestantes estão em ascensão, mas não está claro até que ponto são mais que uma minoria pequena entre os setores sociais com mobilidade ascendente, como era o caso antigamente com os não conformistas na Inglaterra. Tampouco está claro que o fundamentalismo judaico, que causa tanto mal em Israel, seja um fenômeno de massas.
A única exceção é o islã, que vem continuando a se expandir sem nenhuma atividade missionária efetiva nos últimos dois séculos. Dentro do islã, não está claro se tendências como o movimento militante atual pela restauração do califado representam mais que uma minoria ativista. Contudo, me parece que o islã possui grandes trunfos que favorecem sua expansão contínua --em grande medida, porque confere às pessoas pobres o sentimento de que valem tanto quanto todas as outras e que todos os muçulmanos são iguais.
Pergunta - Não se poderia dizer o mesmo do cristianismo?
Hobsbawm - Mas um cristão não crê que vale tanto quanto qualquer outro cristão. Duvido que os cristãos negros acreditem que valham tanto quanto os colonizadores cristãos, enquanto alguns muçulmanos negros acreditam nisso, sim. A estrutura do islã é mais igualitária, e o elemento militante é mais forte no islã.
Recordo-me de ter lido que os mercadores de escravos no Brasil deixaram de importar escravos muçulmanos porque eles insistiam em rebelar-se sempre. Onde estamos, esse apelo encerra perigos consideráveis --em certa medida, o islã deixa os pobres menos receptivos a outros apelos por igualdade.
Os progressistas no mundo muçulmano sabiam desde o início que não haveria maneira de afastar as massas do islã; mesmo na Turquia, tiveram que encontrar alguma forma de convivência --aliás, esse foi provavelmente o único lugar onde isso foi feito com êxito.
Pergunta - A ciência foi uma parte central da cultura da esquerda antes da Segunda Guerra, mas, ao longo das duas gerações seguintes, virtualmente desapareceu como elemento central do pensamento marxista ou socialista. O sr. acha que o destaque crescente das questões ambientais deverá reaproximar a ciência da política radical?
Hobsbawm - Tenho certeza de que os movimentos radicais vão se interessar pela ciência. O ambiente e outras preocupações geram razões fundamentadas para combater a fuga da ciência e da abordagem racional aos problemas, fuga que se tornou bastante ampla a partir dos anos 1970 e 80. Mas, com relação aos próprios cientistas, não creio que isso vá acontecer.
Diferentemente dos cientistas sociais, não há nada que leve os cientistas naturais a se aproximarem da política. Historicamente falando, eles, na maioria dos casos, têm sido apolíticos ou seguiram a política padrão de sua classe.
Existem exceções --entre os jovem na França do início do século 19, digamos, e, muito notavelmente, nas décadas de 1930 e 1940. Mas esses são casos especiais, que se devem ao reconhecimento por parte dos próprios cientistas de que seu trabalho estava se tornando cada vez mais essencial para a sociedade, mas que a sociedade não se dava conta disso.
O trabalho crucial sobre isso é "The Social Function of Science" [A Função Social da Ciência, MIT Press], de [J.D.] Bernal, que exerceu efeito enorme sobre outros cientistas. É claro que o ataque deliberado de Hitler contra tudo o que a ciência representava ajudou.
No século 20, as ciências físicas estiveram no centro do desenvolvimento, enquanto no século 21 está claro que são as ciências biológicas que estão. Pelo fato de estarem mais próximas da vida humana, pode haver um elemento de politização maior. Mas há um fato contrário, com certeza: cada vez mais, os cientistas têm sido integrados ao sistema do capitalismo, tanto como indivíduos quanto no interior de organizações científicas.
Quarenta anos atrás, teria sido impensável alguém falar em patentear um gene. Hoje, patenteia-se um gene na esperança de virar milionário, e esse fato afastou um grupo bastante grande de cientistas da política da esquerda. A única coisa que ainda poderá politizá-los é a luta contra governos ditatoriais ou autoritários que interferem em seu trabalho.
Um dos fenômenos mais interessantes na União Soviética foi que os cientistas lá foram forçados a se politizar, porque receberam o privilégio de um certo grau de direitos e liberdades --de tal maneira que pessoas que, de outro modo, não teriam passado de leais fabricantes de bombas de hidrogênio se tornaram líderes dissidentes.
Não é impossível que isso venha a ocorrer em outros países, embora não existam muitos no momento. É claro que o ambiente é uma questão que pode manter muitos cientistas mobilizados. Se houver um desenvolvimento maciço de campanhas em torno das mudanças climáticas, então é evidente que os especialistas se verão engajados, em grande medida combatendo os reacionários e os que nada sabem. Logo, nem tudo está perdido.
Pergunta - O que o atraiu originalmente para o tema das formas arcaicas de movimento social, em "Rebeldes Primitivos", e até que ponto o sr. planejou isso de antemão?
Hobsbawm - Isso surgiu a partir de duas coisas. Quando percorri a Itália na década de 1950, eu não parava de topar com fenômenos aberrantes --representações partidárias no sul do país elegendo testemunhas de Jeová como secretários, e assim por diante; pessoas que refletiam sobre problemas modernos, mas não nos termos aos quais estávamos acostumados.
Em segundo lugar, especialmente após 1956, isso expressava uma insatisfação geral com a versão simplificada que tínhamos do desenvolvimento de movimentos populares da classe trabalhadora.
Em "Rebeldes Primitivos", eu estava muito longe de ser crítico da leitura padrão-- pelo contrário, eu observava que esses outros movimentos não chegariam a nenhum lugar a não ser que, mais cedo ou mais tarde, adotassem o vocabulário e as instituições modernas.
A despeito disso, ficou claro para mim que não bastava simplesmente ignorar esses outros fenômenos, dizer que sabíamos como todas essas coisas operam. Eu produzi uma série de ilustrações desse tipo, estudos de caso, e disse: "Estes não se encaixam".
Isso me levou a pensar que, antes mesmo da invenção do vocabulário, dos métodos e das instituições políticas modernas, existiam maneiras como as pessoas praticavam política que englobavam ideias básicas sobre as relações sociais --entre elas, em grau não menor, as relações entre poderosos e fracos, governantes e governados-- que possuíam uma certa lógica e se encaixavam.
Mas eu realmente não tive oportunidade de levar esse estudo adiante.
Pergunta - Em "Tempos Interessantes" [publicado em 2002], o sr. expressou reservas consideráveis em relação ao que eram na época modismos históricos recentes. O sr. acha que o cenário historiográfico continua relativamente inalterado?
Hobsbawm - Estou cada vez mais impressionado com a escala do desvio intelectual verificado na história e nas ciências sociais desde os anos 1970. Minha geração de historiadores, que de modo geral transformou o ensino da história, além de muitas outras coisas, procurou essencialmente estabelecer um vínculo permanente, uma fertilização mútua, entre a história e as ciências sociais; era um esforço que datava dos anos 1890.
A disciplina econômica seguiu uma trajetória diferente. Dávamos como certo que estávamos falando de algo real: de realidades objetivas, embora, desde Marx e a sociologia do conhecimento, soubéssemos que as pessoas não registram a verdade simplesmente como ela é.
Mas o que era realmente interessante eram as transformações sociais. A Grande Depressão foi instrumental nesse aspecto, porque reapresentou o papel exercido por grandes crises nas transformações históricas --a crise do século 14, a transição ao capitalismo. Não foram, na realidade, os marxistas que introduziram isso --foi Wilhelm Abel, na Alemanha, o primeiro a fazer a releitura dos fatos da Idade Média à luz da Grande Depressão dos anos 1930. Éramos um grupo que procurava resolver problemas, que se preocupava com as grandes questões. Havia outras coisas cuja importância diminuíamos: éramos tão contrários à história tradicionalista, à história dos governantes e figuras importantes, ou mesmo à história das ideias, que rejeitávamos isso tudo.
Em algum momento da década de 1970, ocorreu uma mudança acentuada. Em 1979-80 a [revista de história] "Past & Present" publicou uma troca de ideias entre Lawrence Stone e mim sobre o "revival da narrativa" --"o que está acontecendo com as grandes perguntas 'por quê'?". De lá para cá, as grandes perguntas transformativas vêm sendo esquecidas pelos historiadores, de maneira geral.
Ao mesmo tempo, ocorreu uma expansão enorme do âmbito da história --passou a ser possível escrever sobre qualquer coisa que se quisesse: objetos, sentimentos, práticas. Parte disso era interessante, mas também se viu um aumento enorme do que se poderia chamar de história de fanzine, na qual grupos escrevem com o objetivo de se sentirem mais positivos a seu próprio respeito.
O exemplo clássico disso é o dos indígenas americanos que se recusaram a acreditar que seus ancestrais tivessem migrado da Ásia, afirmando "sempre estivemos aqui".
Boa parte desse desvio foi político, em algum sentido. Os historiadores oriundos de 1968 não se interessavam mais pelas grandes perguntas --pensavam que todas já tinham sido respondidas. Estavam muito mais interessados nos aspectos voluntários ou pessoais. O [periódico] "History Workshop" foi um desenvolvimento tardio desse tipo.
Não acho que os novos tipos de história tenham produzido quaisquer mudanças dramáticas. Na França, por exemplo, a história pós-Braudel não se compara à que foi feita pela geração dos anos 1950 e 1960. Pode haver trabalhos ocasionais muito bons, mas não é a mesma coisa. E estou inclinado a pensar que o mesmo pode ser dito do Reino Unido. Houve um elemento de antirracionalismo e de relativismo nessa reação dos anos 1970, que, ao todo, constatei ser hostil à história.
Por outro lado, houve alguns avanços positivos. O mais positivo destes foi a história cultural, que todos nós, inegavelmente, tínhamos deixado de lado. Não prestamos atenção suficiente à história do modo como ela de fato se apresenta a seus atores.
O livro "A Europa e os Povos Sem História" [Edusp], de Eric Wolf, é um exemplo de uma mudança positiva nesse respeito.
Também ocorreu uma ascensão enorme da história global. Entre não historiadores tem havido muito interesse pela história geral --ou seja, em como a raça humana começou. Graças a pesquisas de DNA, hoje sabemos muita coisa sobre a expansão de humanos através do planeta. Em outras palavras, dispomos de uma base genuína para uma história mundial.
Outro avanço positivo, em grande medida por parte dos americanos e em parte, também, dos historiadores pós-coloniais, tem sido a reabertura da questão da especificidade da civilização europeia ou atlântica e da ascensão do capitalismo -- "The Great Divergence" [Princeton University Press], de [Kenneth] Pomeranz, e assim por diante. Isso me parece muito positivo, embora seja inegável que o capitalismo moderno surgiu em partes da Europa, e não na Índia ou China.
Pergunta - Se o sr. tivesse que escolher tópicos ou campos ainda inexplorados e que representam desafios importantes para historiadores futuros, quais seriam?
Hobsbawm - O grande problema é um problema muito geral. Segundo padrões paleontológicos, a espécie humana transformou sua existência com velocidade espantosa, mas o ritmo das transformações tem variado tremendamente. Isso claramente indica um controle crescente sobre a natureza, mas não devemos imaginar que sabemos para onde isso nos está conduzindo.
Os marxistas focaram, com razão, as transformações no modo de produção e em suas relações sociais como sendo geradoras de transformações históricas.
Contudo, se pensarmos em termos de como "os homens fazem sua própria história", a grande questão é a seguinte: historicamente, comunidades e sistemas sociais buscaram a estabilização e a reprodução, criando mecanismos para prevenir-se contra saltos perturbadores no desconhecido. A resistência à imposição de transformações de fora para dentro ainda é um fator preponderante na política mundial, hoje. Como, então, humanos e sociedades estruturados para resistir a transformações dinâmicas se adaptam a um modo de produção cuja essência é o desenvolvimento dinâmico interminável e imprevisível?
Os historiadores marxistas poderiam beneficiar-se da pesquisa das operações dessa contradição fundamental entre os mecanismos que promovem transformações e aqueles que são voltados a opor resistência a elas.
Esta entrevista foi publicada originalmente na edição de janeiro/fevereiro da revista britânica "New Left Review".
Tradução de Clara Allain."
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